É a segunda causa de morte por cancro nos EUA e prevê-se que em dez anos esteja no top três na Europa. Para travar o aumento de casos de tumor pancreático é preciso encontrar novos tratamentos e formas de diagnóstico precoce e é isso que estão a debater esta quinta-feira especialistas de várias partes do mundo.
Este “focus meeting” – troca de experiências entre vários médicos – decorre no Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, uma das “bestas negras” da oncologia, como lhe chamou um dia o médico e investigador Manuel Sobrinho Simões, devido ao facto de o diagnóstico ser quase sempre tardio e não existir uma terapêutica eficiente para atacar um dos cancros mais mortais (a taxa de sobrevivência global é de 10%). É a segunda causa de morte por cancro nos EUA e, prevê-se, daqui a dez anos deverá ser a segunda ou terceira na Europa.
Carlos Carvalho, diretor da unidade de cancro digestivo do Centro Champalimaud e um dos oradores do “focus meeting”, aponta o diagnóstico precoce como a “primeira das apostas” para tornar este tumor mais fácil de tratar. Porque, diz à VISÃO no intervalo do encontro, “este é um cancro difícil”.
O rastreio para a população em geral ainda não é possível, mas existem “estudos avançados” para que possa ser diagnosticado através de “uma marcador sanguíneo”. “É uma esperança importante”, diz.
Para o especialista, a segunda aposta é “começar a identificar populações de maior risco”, pois quando o diagnóstico é feito, mais de metade dos doentes já tem metástases.
A terceira aposta é perceber porque razão este tumor tem uma “capacidade de resistência aos medicamentos tão grande” e porque “evolui de forma tão rápida”.
Para se perceber melhor, as células cancerígenas do cancro do pâncreas “ganham uma fibrose à sua volta” que as defende das terapêuticas, é como se o cancro se protegesse a si próprio. Quando se metastisa para outro órgão acontece o mesmo, é criado um tecido em redor.
É, também por isso, que a imunoterapia tem um sucesso residual nestes doentes. Apenas tem “efeito em 1% dos casos”.
“Temos de arranjar novas formas de imunoterapia que não as de hoje. Devemos olhar para os tratamentos que já estão disponíveis e melhorá-los através de novas estratégias”, explica Carlos Carvalho.
Recorde-se que a Fundação Champalimaud vai abrir, em 2020, um centro de investigação e tratamento do cancro do pâncreas. Este projeto conta com o financiamento de 50 milhões de euros de Mauricio e Chalotte Botton (Mauricio é neto do fundador na empresa Danone). O “Boton Champalimaud Pancreatic Center” será construído em Belém, ao lado do Centro Champalimaud para o Desconhecido em Belém.