São maioritariamente homens jovens, com idades entre os 15 e os 34 anos, solteiros, com a escolaridade mínima obrigatória e um rendimento mensal acima da média, entre os 1 500 e os 3 000 euros – eis o perfil conciso do atual surfista português que vai para a água faça chuva ou faça sol, duas a três vezes por semana nos meses quentes, e uma vez por semana no inverno, permanecendo em cima da prancha duas horas e meia.
Estas são algumas das conclusões do Perfil do Surfista 2017, um dos primeiros estudos do Obsurf – Observatório do Surf, criado pela empresa de estudos de mercado e sondagens de opinião 2ii. “Trata-se de um projeto anual, sempre com dados renováveis e recentes, sobre como é que o surf está a contribuir para o turismo, a economia e o desporto, caracterizando o cluster dos desportos de ondas em Portugal”, explica Francisco Ourique, responsável pelo estudo.
O questionário foi feito a uma amostra de 2 503 pessoas, espalhadas por nove spots nacionais ao longo de toda a costa, tendo sido discutido com quem mais percebe da modalidade, como a Federação Portuguesa de Surf, atletas, clubes e escolas. “Estava à espera de tudo e de nada, pois os últimos dados já tinham sete a dez anos. Faltava saber quem é o surfista português e, já este ano, estamos a conseguir obter os dados também por zonas do País. O surfista do Algarve e da costa alentejana é diferente do da Ericeira, e este é diferente do de Peniche, e por aí fora”, continua o responsável da 2ii.
Com o aparecimento de cada vez mais mulheres praticantes de surf e com lugares no pódio das provas nacionais e internacionais, os autores do estudo ficaram surpreendidos com a percentagem esmagadora de 99% de homens entre os praticantes da modalidade, mas concluíram que o universo feminino está mais virado para o bodyboard. Outro dado que chamou a atenção foi a “percentagem interessante” (21,4%) de surfistas acima dos 35 anos.
É de forma autodidata, com amigos e outros praticantes, que os portugueses preferem aprender a surfar (88,4%). Já quem opta por frequentar uma escola de surf (11,6%), principalmente para iniciados, fá-lo por achar que com aulas se aprende mais rapidamente ou mais facilmente a surfar (88,6%), sendo ainda um modo de conhecer as regras de segurança (87,5%), e que todo o conhecimento ajuda a melhorar a performance (68,4%). O gosto pelo mar (90%) continua a dominar as motivações para praticar o desporto de ondas. Segue-se a necessidade de relaxar (41,3%), a sensação de adrenalina (33,7%), o alívio do stresse diário (32,2%) ou a noção de que, por ser um desporto, faz bem à saúde (6,1%). Porém, a procura pelo bem-estar físico e mental é mesmo o que leva os surfistas a rumarem à praia.
Segundo Francisco Ourique, haverá entre 120 mil e 250 mil surfistas portugueses no nosso país, mas só quando terminar um outro levantamento que está a decorrer junto das 294 escolas de surf será possível saber quantos alunos se vão formando ao longo do ano e, desses, quantos dão continuidade à aprendizagem e à prática. Será ainda apurado o valor da faturação anual das escolas de surf, que se prevê situar-se entre os €8 e os €12 milhões em aulas.
Sabendo o número oficial de praticantes, será mais fácil conseguir determinar quantos milhões de euros geram os surfistas nacionais. E já são muitos milhões, seguramente, a que é preciso somar a receita gerada pelos estrangeiros. As principais nacionalidades que nos procuram para a prática de surf, ainda segundo o Obsurf, são a espanhola, a alemã, a francesa e a inglesa. Uma onda que não para de crescer.