“Uma vila tão acostumada à presença dos surfistas e dos negócios que eles trazem consigo que até os pescadores estão recetivos a eles”, assim cita o The New York Times, relativamente ao estado atual da Nazaré. Esta vila litoral, com pouco mais de 15 mil habitantes (segundo dados de 2011), foi, durante muito tempo, apenas uma tranquila vila piscatória. Mas, há cerca de oito anos, começou a ganhar popularidade e a atrair pessoas, surfistas e empresas, depois de o norte-americano Garrett McNamara ter surfado a maior onda de sempre até ao momento- com 23,77 metros – em novembro de 2011.
A verdade é que foi a Nazaré que lhe concedeu, até há pouco tempo, o título de recordista mundial da maior onda alguma vez surfada, batido apenas em abril deste ano pelo brasileiro Rodrigo Coxa (por 61 centímetros), também na Nazaré.
Estas ondas, que até à visita de McNamara eram consideradas não surfáveis pelos habitantes locais, não se formam por acaso. Tudo acontece por causa do conhecido Canhão da Nazaré, um desfiladeiro submarino de origem tectónica que começa a definir-se a meio quílometro da costa e está relacionado com a falha Nazaré-Pombal.
McNamara, que estava habituado ao colossal Oceano Pacífico, nunca tinha visitado a Europa e não via, sequer, Portugal como um destino futuro. Depois de aceitar o convite de um professor de surf local, Dino Casimiro, para conhecer a Nazaré e experimentar as ondas da Praia do Norte e de ter estabelecido o recorde, o surfista colocou a Nazaré no mapa mundial do surf.
“É uma mistura muito interessante de história e tradição, e uma comunidade de surfistas”, conta Maya Gabeira ao The New York Times, surfista brasileira e detentora do recorde mundial da maior onda surfada por uma mulher (20,7 metros).
Agora, a Califórnia, o Havai e a Nazaré são os destinos eleitos pelos surfistas para tentarem a sorte dentro do mar e bater recordes. Com eles, chegam as novas escolas de surf e lojas de recordações, mas também os turistas que, durante todo o ano, esgotam os hotéis da vila e redondezas, para verem as maiores ondas do mundo e visitarem o Forte de São Miguel Arcanjo, aberto ao público todo o ano desde 2015.
Neste momento, a World Surf League (Liga Mundial de Surf) organiza competições regulares na vila. O jornal americano fala das “grandes ondas que se conseguem atingir na Nazaré por longos e incomuns períodos do ano” e da forma como a ideia que se tinha dos próprios surfistas se foi alterando ao longo do tempo, aumentando o respeito por esta profissão.
Este sítio começou a seduzir, também, pessoas de outras áreas. O diretor de cinema Tim Bonython, por exemplo, muito ligado ao surf, comprou casa na Nazaré recentemente. “Não acredito que exista outro lugar no planeta que seja tão popular para o surf como a Nazaré”, diz ao The New York Times.
É claro que os preços das casas começaram a subir com a procura de imóveis para arrendar ou comprar, principalmente por estrangeiros, e é muito provável que, daqui a uns anos, seja incomportável para um nazareno viver no centro da vila.
Neste momento, a Nazaré tem-se ajustado aos negócios trazidos pelo surf, social e culturalmente também. Uma das provas disso é que “os turistas admiram, agora, pranchas de surf nas mesmas salas onde a polícia marítima costumava guardar redes de pesca confiscadas”, assim cita o jornal.