Se a cor não lhe chega à mesa através da comida dita tradicional, porque não aproveitar a onda da experimentação, baralhar e voltar a pôr no prato? As fotografias ficarão mais apelativas, de certeza, já os sabores podem não ser exatamente os mesmos. As novas tendências na cozinha trazem-nos alimentos com cores bem diferentes daquelas a que estamos habituados, sem o recurso a corantes artificiais. A questão é saber se isso acrescenta alguns benefícios aos produtos. A nutricionista Iara Rodrigues considera que tudo não passa de uma moda. “O tradicional já não é sexy, estamos sempre a precisar de mudar, e a indústria segue a tendência de lançar coisas novas para o mercado”, vai dizendo, e com isso não quer dizer que seja contra ou que esses alimentos façam mal à partida. No entanto, ainda não encontrou um “estudo que prove que são melhores do que os outros”… Mas há exceções.
1. Arroz de um vermelho esbatido
Uma dessas exceções é o arroz-vermelho, já que existe bastante investigação sobre este alimento, mais utilizado no Oriente. Trata-se de um arroz integral, de grão longo e de cor vermelha, ou acastanhada, que aparece graças aos seus pigmentos naturais. Diferencia-se do arroz que costumamos comer pelo facto de ser bastante rico em fibras e em hidratos de carbono complexos, propriedades que aumentam a sensação de saciedade (por isso se recomenda na redução do peso e do apetite). Porém, a sua fama vem dos benefícios comprovados no combate ao colesterol. “Através do cruzamento da investigação molecular com as tradições asiáticas seculares da fermentação deste tipo de arroz, concluiu-se que ela produz uma levedura de coloração vermelha, que reduz os valores do colesterol”, explica a nutricionista Ana Ni Ribeiro.
A eficácia dessa levedura resulta da presença de Monakolina K, substância que diminui a síntese de colesterol no fígado, tendo impacto na redução das dislipidemias, especialmente no LDL (conhecido por “mau colesterol”). Destina-se, por isso, a pessoas com aumentos moderados de colesterol e com riscos cardiovasculares, que preferem soluções naturais, e é uma mais-valia para os intolerantes aos grupos terapêuticos utilizados para minimizar esta condição.
Mas este tipo de arroz de cor vibrante serve para todos – apesar de o preço ser mais alto do que os outros disponíveis no mercado e de não haver produção nacional – porque ele é rico em antioxidantes, zinco e vitamina B6, elementos associados a benefícios contra o envelhecimento celular, imunidade e humor. “No entanto, não aconselho o consumo da levedura de arroz-vermelho a mulheres grávidas e em período de amamentação. De notar ainda que alguns estudos desaconselham o consumo de grandes quantidades deste tipo de arroz por crianças e idosos, devido à possibilidade de efeitos secundários renais”, alerta a especialista. O arroz-vermelho pode ser confecionado e consumido como o arroz tradicional. No entanto, por ter um sabor mais intenso, é preferível que se reduzam os temperos.
2. Leite da cor do céu
Chamam-lhe leite, mas, na verdade, trata-se de uma bebida vegetal que tem por base a chufa (mais conhecida por tiger nuts, um tubérculo de sabor semelhante ao da avelã, com reconhecidos benefícios para a saúde). Contudo, a sua coloração azul vem do extrato da alga arthrospira azul-esverdeada (blue majik) que se mistura na bebida. É como se fosse uma espirulina mais rica em antioxidantes, vitaminas (principalmente B12) e anti-inflamatórios. Diz quem já provou que não sabe a algas e que se traga suavemente. Ainda não existe em Portugal – os que aqui se consomem são exportados e encomendados pela internet. Para fazer em casa, há que mandar vir o extrato de blue majik e juntá-lo a bolos, iogurtes, bowls ou bebidas, e depois encher o seu Instagram com fotos de refeições azuladas. Têm likes garantidos…
3. Rodelas de ananás de cor de rosa
Perante este fruto de cor tão inusitada, a nutricionista Iara Rodrigues questiona-se: “Terá mais antioxidantes por causa do pigmento cor de rosa? E só por isso terá mais eficácia no nosso corpo? Absorvemo-los bem?” O desconhecido provoca-lhe estas dúvidas e compreende-se. Este organismo geneticamente modificado foi aprovado para ser vendido em dezembro de 2016, pela Food and Drug Administration – a autoridade máxima norte-americana no que toca à alimentação. Do trabalho em laboratório resultou um ananás que fica bem nos retratos, graças à junção de licopeno – uma substância que dá a cor avermelhada ao tomate e à melancia, por exemplo – ao fruto tradicional. Esta substância, que foi adicionada artificialmente, tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, o que pode ser uma boa notícia. Para os gulosos, acrescente-se que é mais doce do que um ananás tradicional.
4. Batata-doce em tons violeta
Este tipo de batata-doce existe naturalmente, sem que para isso seja preciso acrescentar-lhe algum tipo de pigmento. Mas não se usa tanto, porque a cor assusta um bocado. Também chamada violeta, é produzida em Aljezur, por exemplo, mas em muito menos quantidade do que a tradicional. Pena, porque esta tem maior teor de antioxidantes e dá outra vivacidade ao prato, tal como a beterraba. “Esta cor deve-se às antocianinas, compostos que revelam ter vários benefícios para a saúde. Em comparação com a batata-doce comum, tem maior quantidade de vitaminas A, E e C”, acrescenta Ana Ni Ribeiro.
5. É azul e diz que é vinho
Já existe em Espanha há mais de dois anos e foi inventado por um grupo de jovens amigos, sem qualquer tradição na área. No site da marca Gik, pedem-nos que nos esqueçamos de tudo o que sabemos sobre vinho e suas respetivas denominações. O que a empresa comercializa é uma bebida doce (mas sem açúcares adicionados, apenas adoçantes), com apenas 11,5 graus de álcool – quase um licor fraquinho, acrescentamos nós. Esta bebida aparece, assumidamente, com a intenção de se inventar algo novo e diferente. Para se chegar a esta coloração, foram usados processos tecnológicos de pigmentação específicos, desenvolvidos em colaboração com uma equipa de investigadores da Faculdade de Engenharia do País Basco.
6. Nem todos os kiwis são verdes
São arredondados, têm a casca com menos pelos, a polpa é amarela, mais suculenta e doce do que os tradicionais verdes. Os kiwis gold, como também os chamam, produzem-se em Portugal, mas vendem-se muito menos do que os outros – e, por isso, são mais caros. “Assim como o kiwi verde, o amarelo é uma fruta recheada de vitamina C. A diferença característica é que a variedade gold é menos calórica e contém o dobro da vitamina C, oferecendo até 180 miligramas de vitaminas por cem gramas. Também é rico nos tipos A e E, que reduzem as possibilidades de doenças no coração e melhoram o sistema imunológico” , refere Ana Ni Ribeiro. Às vezes, só há vantagens em mudar de cor.