Duas vezes no espaço de uma semana, em praias americanas, os serviços de emergência médica tiveram de ser chamados para socorrerem banhistas atingidos por guarda-sois. Em ambos os casos, as vítimas eram mulheres que estavam sossegadamente na praia quando uma rajada de vento mais forte levou pelos ares um guarda-sol. Escreva-se já que as duas sobreviveram para contar, embora com ferimentos graves.
Segunda-feira, 16, a britânica Margaret Reynolds, de 67 anos, encontrava-se a apanhar sol numa praia em Seaside Heights, no estado de New Jersey, quando a vareta de um guarda-sol se enterrou no seu tornozelo direito. Antes de a transportarem para o hospital, os paramédicos tiveram de usar um alicate para libertá-la do ferro.
No último domingo, 22, desta vez numa praia em Ocean City, no estado do Maryland, uma mulher de 54 anos, que estava sentada numa cadeira de lona, a ler, ficou ferida gravemente ao ser atingida no peito pela base bicuda de um guarda-sol. Por sorte, o bico era de madeira e os bombeiros conseguiram cortá-lo antes de a vítima ser levada de helicóptero para o hospital mais próximo.
A hipótese de um dia vir a assistir a um episódio semelhante em Portugal leva o Comandante Fernando Fonseca, porta-voz da Marinha Portuguesa, a bater na madeira. Na falta de legislação específica ou sequer de indicações dadas aos nadadores-salvadores, os banhistas têm de avaliar a força do vento antes de usarem um guarda-sol, diz. “Fora das zonas concessionadas, cabe às pessoas perceberem quando devem fechá-lo.”
O problema, muitas vezes, começa a montante. Quem nunca teve dificuldades para fixar o guarda-sol na areia? E, uma vez enterrada o suporte, será que as pessoas se lembram de direcionar a lona contra o vento?
Albino Martins tem 69 anos e está desde que nasceu na praia de Santa Helena, em Santa Cruz, uma praia ventosa no concelho de Torres Vedras. O avô era ali banheiro, o pai seguiu-lhe as pisadas e, há mais de três décadas, coube-lhe a ele continuar a alugar as barracas. Todos os verões, vê guarda-sois a voarem pelos ares e todos os anos se admira por nunca ter assistido a nenhum acidente grave. “Já houve feridos, mas felizmente nunca com gravidade. Aquilo tem um espeto”, lembra, “que deve ser enterrado com profundidade.”
No início da época, Albino e o seus ajudantes enterram os paus das barracas depois de escavarem bem a areia com a ajuda de pás. “Os paus são quadrados, têm 5 centímetros de diâmetro e, mesmo assim, temos sempre o cuidado de cavar bem fundo”, explica. “Às vezes, os cordões desatam-se com o vento e a barraca fica um bocadinho bamba, mas nunca aconteceu ir alguma pelo ar.”
Fora da zona concessionada, onde se concentram os guarda-sois, o banheiro viu alguns banhistas recorrerem a umas bases em rosca que se “aparafusam” à areia. Mas nem esse sistema é infalível.
O melhor, ensinam os brasileiros, é usar um “saca-areia” – uma geringonça parecida com as velhinhas bombas de encher pneus de bicicleta com que se vai “sugando” a areia, sempre no mesmo sítio. Aberto um canal – “com 50 a 60 centímetros”, aconselha Marco Barbosa, que trabalha nas praias de Florianópolis, no estado de Santa Catarina –, basta enterrar aí o suporte do guarda-sol. Haja algum empreendedor que se lembre de importar saca-areias.