Por volta dos 6 anos, Sofia Ramada Curto queria ser palhaça, uma lembrança longínqua confirmada pelos pais. “Acho que já consegui. Atingi o meu objetivo de vida”, brinca, descontraída, a realizadora de televisão. Alfacinha de gema e um “bocado beta”, aos 39 anos Sofia arranjou uma maneira de se divertir e de pôr as celebridades nacionais a rirem a bandeiras despregadas. Com o nome Fake Blogger (e o lema “Fake it till you make it”, qualquer coisa como “Finja até que se torne real”), em 5 meses angariou 100 mil seguidores no Instagram que aguardam, religiosamente, pelos dois posts semanais com as paródias às fotografias que as figuras públicas partilham nas redes sociais, com as poses mais sedutoras (julgam elas!). Tudo começou quando estava de férias nas Filipinas com a apresentadora Maria Botelho Moniz e Sofia gozou com o cuidado da amiga a posar.
Sem reservas em rir de si própria, espontânea e com muita lata, Sofia Ramada Curto vê a relação das figuras públicas com as redes sociais como “o novo Big Brother”, só que agora as câmaras são os seus telemóveis. “O segredo desta página é que os implicados gostam, depois partilham e eu vou-lhes buscar fãs”, analisa. O post em que Sofia Ramada Curto apoia o rabo de Rita Pereira, literalmente, com ela sentada a seu colo, foi partilhado pela atriz e teve 385 mil visualizações.
No seu telemóvel, a pasta “Fake Poses por Fazer” guarda as fotografias que, em breve, irá desmontar. Anda a engendrar uma maneira de reproduzir uma imagem da fadista Cuca Roseta toda contorcida, num momento em que praticava ioga. “Já sabem que sou piadista e que vou tratá-los com respeito. É um divertimento, e só quero fazer com que as pessoas se riam”, diz. E consegue. A dança no varão da atriz Dânia Neto transformada em pole dance de cuecas num sinal de trânsito é um bom exemplo. “Agora até já tenho pessoas a perguntarem-me: ‘Quando é que é a minha vez?’.”
Antes de publicar a paródia, a realizadora envia a fotografia ou o vídeo a todos os intervenientes e, até hoje, nunca teve uma crítica negativa, garante. Só Cristiano Ronaldo e Georgina Rodríguez não responderam, mas, dada à fama planetária deles, Sofia compreende.
Stand-up comedy? Quem sabe
Sofia Ramada Curto teve uma infância feliz. Desde pequena que ela e o irmão mais novo eram espicaçados pelo pai, que os metia a decorar poemas para declamarem para uma caixa de xarope. “O meu pai puxava muito pelo nosso lado humorístico. A minha avó, que era violinista, também tinha uma veia engraçada e punha os netos a fazer teatro”, lembra. A tradição do palco na família já vem do bisavô, o dramaturgo Amílcar da Silva Ramada Curto.
Sofia ainda pensou estudar no Conservatório, mas a mãe disse-lhe que ela só iria depois de tirar um “curso a sério”. Lá se meteu em Comunicação Empresarial, pois achava que a sua veia comunicadora a levaria a algum lado. Aos 16 anos, inscreveu-se para integrar o público em programas de televisão e foi parar à plateia de Malta Gira (1995), uma espécie de concurso de talentos apresentado por Nicolau Breyner. A sua avó, que conhecia o ator, pediu-lhe por diversas vezes que enviasse os seus cumprimentos, coisa que Sofia lá fez a custo, mas que lhe valeu um início de carreira auspicioso. Depois de explicar que foi bater palmas para ver como se faz televisão, Nicolau chamou-a para a sua régie e, assim, entrou na ficha técnica de A Mulher do Senhor Ministro, com Ana Bola, Vítor de Sousa e Maria Rueff. Começava a dar-se com caras conhecidas do grande público e a privar com quem fazia ficção em Portugal. “O Nico sempre puxou pelo meu lado técnico de realizadora e de piadista. Costumava dizer-me: ‘Ainda vais fazer stand-up comedy.’”
Trabalhou em novelas, na antiga NBP, produtora de Nicolau Breyner, mas, antes de enveredar pela realização, foi animadora de público nas galas da Endemol. “Eram tempos divertidos, agarrada ao microfone a fazer o aquecimento do público. As pessoas da plateia até me fizeram um clube de fãs.”
A Fake Blogger vai continuar a brincar com as celebridades nacionais. Material não lhe falta. E não é caso único, já que lá fora temos os exemplos da australiana Celeste Barber, com quatro milhões de seguidores, ou do italiano Emanuele Ferrari (873 mil seguidores) que reproduz as roupas dos famosos com frutas, papel higiénico ou sacos de plástico.
Por enquanto, Sofia ainda não vive desta brincadeira, mas isso não é uma hipótese descartada, visto que a página já recebeu uma dezena de convites de diversas marcas. “Só criando uma personagem é que eu poderei fazer publicidade. Mas quero fazer reclames”, revela. Quando lhe pedem orçamentos para a eventual publicação de um post, não sabe o que fazer e conta com a ajuda da mulher, a produtora de televisão Inês Ramada Curto. Neste projeto, “a Inês é a cabeça, eu sou o corpo”. Para já, a Fake Blogger “devia ser patrocinada por uma loja de chineses”, tantas são as vezes que lá vai comprar adereços.