A casa de 500 metros quadrados só começou a ser erguida em fevereiro, na Ericeira. Porém, José Borralho mal pode esperar pela mudança. Também não terá de aguentar muito, apesar de as chuvas recentes terem atrasado ligeiramente os trabalhos. “Mais duas ou três semanas, e ela estará pronta.” A rapidez do processo foi, aliás, uma das razões por que escolheu um tipo de construção de madeira, ainda pouco habitual em Portugal. No entanto, não foi a principal. “É muito mais sustentável, nos materiais e mesmo em termos da energia que se consome. Ainda há pouco tempo lá fui, estava um dia desagradável, frio, entrámos em casa e sentimos logo o calor.”
O empresário, de 48 anos, só vê pontos positivos na sua opção. Os clássicos deslizes orçamentais, por exemplo, são coisa que não acontece com as casas de madeira, garante. “Não temos más surpresas. As poucas diferenças que houve deveram-se a alterações que pedi durante a construção.” Esse é outro benefício: “O processo é mais controlado. Estamos sempre a tempo de mudar alguma coisa.” Na verdade, apenas o preço não entrou na equação. “O custo é o equivalente a uma casa de alvenaria.” No caso, ficou a cerca de €1 000 o metro quadrado, para um total de €500 mil, IVA incluído.
As construções de madeira estão definitivamente a ganhar espaço, fenómeno em parte impulsionado por estrangeiros que se mudam para Portugal, vindos de países onde este estilo é comum. “No mesmo local da minha, há mais três casas, todas de madeira, pertencentes a americanos, suecos e ingleses”, aponta José Borralho.
O ambiente agradece
Fernando Reis, o dono da empresa Wood Houses, responsável pela casa de José Borralho, constrói habitações de madeira há 25 anos. Durante a maior parte desse tempo, o seu negócio foi de nicho. E, então, “há cinco ou seis anos, durante a crise económica”, diz, o mercado começou a alargar. “As casas eram mais baratas”, justifica o empresário, de 47 anos. Hoje, o preço não é um fator tão importante, apesar de a construção ainda ser ligeiramente menos dispendiosa, assegura. “Uma casa destas custa entre €700 e €900 o metro quadrado, mais IVA, enquanto uma moradia com acabamentos semelhantes, com o mesmo padrão de qualidade, custa entre €1 000 e €1 100.” Seja por que razão for, o empreiteiro não tem descanso. “Recebo dois ou três pedidos de novas habitações por dia. E já tenho o ano de 2019 fechado.” Poucos negócios se podem dar ao luxo de só aceitar encomendas para 2020.
Além do tempo de construção – entre a adjudicação da obra e a entrega da chave não passam mais de oito meses –, Fernando Reis aponta o ambiente como a primeira vantagem com a troca de alvenaria por madeira. “Além de ser madeira certificada, com origem na Europa de Leste, o dióxido de carbono emitido na construção é apenas 25% do de uma casa em betão e aço.” Mas há mais: “O isolamento acústico e térmico são superiores, e é por isso que 90% das casas não precisam de aquecimento. E a respiração também é melhor – não há humidades.”
Num país como o nosso, com o problema crónico dos incêndios florestais, é natural que a primeira dúvida de muitos clientes seja a segurança em caso de fogo. O construtor responde com as centenas de habitações consumidas pelas chamas no ano passado – todas de betão. “A casa de madeira arde tanto como qualquer outra. Mas, até hoje, isso nunca nos aconteceu e, de qualquer modo, à exceção da madeira, os materiais que usamos não ardem.”
A tendência não se fica só pelas casas particulares. Rita Fernandes, responsável pelo empreendimento turístico Golden Halcyon Ericeira Villas, inaugurado em 2016 e constituído por sete casas de madeira, diz ter optado por este material por ser mais ecológico e pela sua beleza arquitetónica. “Vimos vários projetos lá fora e foi este design que nos agradou.” E, acrescenta, ainda tem o bónus de se diferenciar da concorrência. Porém, dada a popularidade da madeira, cada vez menos se notará essa vantagem.