Dos 32 questionários respondidos nas corporações de bombeiros de Castelo Branco, Cernache do Bonjardim (Sertã) e Pampilhosa da Serra, a investigadora identificou 23 bombeiros que “apresentam sinais de stress pós-traumático”.
Os resultados dos questionários que já elaborou mostram uma “prevalência elevada” dos sinais de stress pós-traumático, acrescenta.
Depois de ter realizado um mestrado em torno do stress pós-traumático em veteranos da guerra colonial, Joana Becker está a desenvolver uma tese de doutoramento sobre o impacto da psicoterapia dinâmica (identifica e aborda emoções e processos inconscientes que resultam numa ampla gama de sintomas, como depressão, ansiedade e somatização) em bombeiros com sinais de stress.
O trabalho no terreno começou em abril, sendo que, para além de aplicar questionários, está a fazer consultas de psicoterapia uma a duas vezes por semana nas corporações de bombeiros de Cernache do Bonjardim e de Castelo Branco.
Até ao final deste ano, a investigadora pretende aplicar os questionários a 250 bombeiros da região Centro e, em 2019, pretende fazer atendimento em mais uma ou duas corporações da região Centro.
“Os bombeiros trabalharam muitas horas sem descanso e viram pessoas em sofrimento, que perderam tudo”, disse à agência Lusa a investigadora, realçando o sentimento de impotência perante o descontrolo das chamas, a sua gravidade e extensão.
De acordo com Joana Becker, a maioria apresenta perturbação do sono, assim como stress e ansiedade ao se recordarem ou relatarem determinada situação no combate ao fogo, para além de haver um “sentimento de culpa, que é muito comum no caso de bombeiros”.
“Os bombeiros estão acostumados aos incêndios florestais, mas este foi um fogo anormal”, vincou.
Os bombeiros “têm uma profissão de risco e deveria haver uma atenção maior sobre o tratamento. Acho muito positivo a forma como os bombeiros e os comandantes viram o meu trabalho. Estão mais abertos para ouvir uma psicóloga e nota-se que se está a perder esse preconceito”, sublinhou a investigadora do Centro de Trauma.
com Lusa