Foram várias semanas debaixo dos holofotes. Cristina Cifuentes, 54 anos, Presidente da Comunidade Autónoma de Madrid, andou na corda bamba quando se soube que o seu mestrado tinha sido obtido de forma fraudulenta. A imprensa não largou o caso e a oposição – Cifuentes, do PP, tem sido apontada como sucessora do atual presidente do Governo de Espanha, Mariano Rajoy – também não. Mas não foi por isso que se demitiu. Este fim de semana, vieram a público imagens captadas em 2011, altura em que era vice-presidente da comunidade, onde se vê Cifuentes a ser revistada pelo segurança de um supermercado. Da sua mala saíram dois boiões de creme, no valor de €40, que não tinham sido pagos. Ela defendeu-se dizendo que “foi um erro involuntário” e demitiu-se.
Não foi o primeiro, nem será o último caso de condutas menos próprias em Espanha. Já houve deputados apanhados a ver pornografia em plena sessão plenária e outros a jogar no telemóvel. Um dos mais referenciados costuma ser o do parlamentar que “desviou”, tal como Cifuente, um produto de uma loja, desta feita um pijama.
Eu é que (não) sou doutor
Por cá, os políticos também cometeram os seus erros. Uns mais graves do que outros. Uns mais anedóticos do que outros.
A formação académica, ou a falta dela, tem dado pano para mangas. Miguel Relvas perdeu a licenciatura na Lusófona e teve de voltar às aulas, depois de abandonar o posto de braço direito do Governo de Pedro Passos Coelho. José Sócrates também teve a sua licenciatura envolvida em polémica quando se soube que a tinha concluído a um domingo.
Na lista figura, também, a demissão do Comandante Operacional Nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil, Rui Esteves, em finais de 2017, depois de ser saber que fez a licenciatura com recurso a equivalências (32 num total de 36 unidades curriculares).
Pouco antes disso, já o primeiro-ministro António Costa tinha pedido a todos os ministérios que averiguassem “do seu grau de pureza” as declarações curriculares prestadas por todos os membros dos gabinetes, depois de dois chefes de gabinete terem entrado para o catálogo dos “falsos diplomados”.
Mais recentemente, Feliciano Barreiras Duarte, o, afinal, “não visiting scholar” da Universidade de Berkeley, nos EUA, esteve pouco tempo como secretário-geral do PSD, no novo reinado de Rui Rio.
Por outro lado, a linguagem de alguns políticos roça, não raras vezes, a indelicadeza, a afronta e o insulto. Um dos excessos que levou à saída de um ministro, em 2016, foi a célebre promessa de “um par de bofetadas” que João Soares, na altura ministro da Cultura, fez aos colunistas Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente.
Muito antes disso, em 1993, Carlos Borrego demitiu-se de ministro do Ambiente após ter contado uma anedota que envolvia doentes que faziam hemodiálise (recorde-se que esta tentativa de humor aconteceu na sequência da morte de 25 pacientes, no Hospital de Évora, devido ao excesso de alumínio na água da rede pública)
Seja como for, a ausência de linguagem também provocou uma baixa no primeiro Governo de José Sócrates: o gesto dos corninhos que Manuel Pinho fez na direção de Bernardino Soares (PCP), em pleno hemiciclo.
A seguinte desobediência às regras não provocou saídas, embora não tenha evitado um pedido de desculpas: nos aviões portugueses é proibido fumar desde meados da década de 1990, mas num voo fretado para uma visita oficial à Venezuela, em 2008, José Sócrates e Manuel Pinho, na altura primeiro-ministro e ministro da Economia, fumaram e conversaram tranquilamente a alguns milhares de metros de altitude.
E a sisa, pá!
Já os dígitos registados no alcoolímetro onde a deputada socialista Glória Araújo soprou ultrapassaram a barreira da simples infração. Em 2013, no dia do seu aniversário, e quando se dirigia para casa às 3 e 20 da manhã, foi mandada parar numa operação stop no centro de Lisboa. Resultado: 2,41 gramas de álcool no sangue, acusou o balão. Condenação: €2 250 de multa e inibição de conduzir durante seis meses.
O chamado “tomba ministros” deu, em tempo, pelo nome de sisa, o imposto obrigatório quando se comprava casa (em 2003 foi substituído pelo IMT). Fez correr muita tinta, principalmente a tinta dos jornais que publicaram notícias que levaram à saída de ministros. O caso mais conhecido é o de António Vitorino. Era, então em 1997, ministro da Defesa, quando o jornal Público lhe enviou algumas perguntas sobra a compra (ainda antes de estar no Governo) de um imóvel no Alentejo em que teria declarado, para efeito de impostos, um valor abaixo do valor real. Nem esperou que a notícia chegasse às bancas, fez um conferência de imprensa relâmpago e apresentou a demissão.
Mas houve mais. Murteira Nabo esteve 15 dias com a pasta do Equipamento, em 1995. Abandonou o Governo quando surgiram as primeiras acusações de que não teria pago a sisa de um apartamento.
Amantes e plágios
Corria o ano de 2014, quando a revista francesa Closer deu à estampa várias fotografias das escapadelas românticas do, então, presidente François Hollande com a atriz Julie Gayet. O acontecimento acabaria por ditar o fim do casamento de Hollande e Valérie Trierweiler. Nesse mesmo ano, mas em Toronto, no Canadá, foi divulgado um vídeo do presidente da câmara a fumar crack e um outros em que fazia comentários homofóbicos e racistas. Rob Ford admitiu que abusava do álcool e de drogas e fez um tratamento, no entanto sem deixar o cargo. Mas já não se recandidatou a outro mandato.
Também foi o álcool que carimbou a saída ministra Aida Hadzialic do Governo sueco depois de ter sido apanhada a conduzir ébria.
Na Alemanha, em 2011, o ministro da Defesa saiu do Governo quando se soube que tinha plagiado a sua tese de doutoramento. Dois anos mais tarde, havia de ser a vez da ministra da Educação, muito chegada a Angela Merkel, abandonar o cargo pelo mesmo motivo.