A grave situação financeira da Fundação “O Século” ameaça ditar o fim daquela que é a sua principal bandeira: a colónia balnear. Para assegurar a obra social que mantém o ano inteiro, e pagar a mais de uma centena de trabalhadores, a administração da Fundação com sede em São Pedro do Estoril está sem dinheiro para este verão levar à praia centenas de crianças pobres de todo o país, como é tradição desde que a instituição foi criada há mais de 90 anos. Um empresário – que em 2012 já tinha doado 100 mil euros à Fundação para manter a colónia balnear de pé – soube disso e não quis ficar parado. Paulo Paiva dos Santos, fundador da farmacêutica Generis, vai dar início a uma campanha de angariação de fundos para conseguir juntar dinheiro suficiente para levar à praia de São Pedro do Estoril 640 crianças (240 delas em regime de dormida na Fundação), durante dez semanas seguidas, com início já a 2 de Julho.
O plano passa por pedir contributos directos de empresários mas também por iniciativas como uma corrida na marginal (os fundos reverterão para a colónia balnear) e por um open day na Fundação, que visa mostrar como é hoje a obra social daquela instituição e mostrar como era antigamente, através da exibição de velhos documentários a preto e branco sobre o dia-a-dia da colónia naqueles anos e sobre a importância da mesma para crianças pobres de todo o país. Paulo Paiva dos Santos tem esperança de que aquela que é uma das obras sociais mais antigas em Portugal seja suficiente para mobilizar muitos donativos. E por essa razão já alargou o objetivo: quer angariar dinheiro para manter a colónia balnear de pé, e ainda mais 100 mil euros para a obra social que a Fundação desenvolve durante todo o ano.
Contatado pela VISÃO sobre os motivos que o levaram a ajudar a Fundação sem qualquer contrapartida, Paulo Paiva dos Santos responde: “A razão que sempre me assiste é devolver à sociedade parte do que a sociedade me permitiu ganhar.”
A situação financeira da Fundação “O Século” agravou-se nos últimos meses por algumas das contas da Fundaçãi terem ficado congeladas, na sequência de dívidas contraídas pela anterior direção, presidida por Emanuel Martins, constituído recentemente arguido por suspeitos de abuso de poder e de uso do dinheiro da Fundação para fins privados. João Ferreirinho, ex-vice-presidente da Fundação, também foi constituído arguido.
A Fundação “O Século” foi alvo de uma primeira operação de buscas logo no início de janeiro, pouco tempo depois do escândalo da “Raríssimas”. Desde então, a VISÃO revelou o conteúdo de várias denúncias e de relatórios da Segurança Social que davam conta de que aquela IPSS estava dominada pela família do presidente Emanuel Martins e por membros da maçonaria; e de que havia gastos avultados com cartões de crédito da Fundação que não estavam devidamente justificados. A acompanhar tudo isto – que levou à constituição de arguido do ex-presidente e ex-vice-presidente da Fundação e a duas operações de buscas – a situação financeira estrangulava a continuidade da obra da Fundação. No final do ano, as dívidas eram superiores a 4 milhões de euros. Havia dívidas de IVA, de Segurança Social dos funcionários, e também a fornecedores.
Emanuel Martins só acabaria por se demitir nas vésperas da Páscoa, depois de um longo braço-de-ferro com o conselho de Curadores. Antes de sair resolveu vender o carro que conduzia – e que era propriedade da Fundação – ao filho, também funcionário da IPSS. O novo presidente é agora António Júlio de Almeida, antigo presidente da EMEL – Empresa de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa.