Num estudo publicado segunda-feira no Medical Journal of Australia, os cientistas mostram-se preocupados com a “epidemia” e alertam que é urgente investigar a doença, depois do aumento significativo de casos nos últimos anos em várias regiões da Austrália, mas, sobretudo, no estado de Victoria. Aqui, a epidemia está a piorar, escrevem, “definida pelos casos que aumentam rapidamente em número e em gravidade”.
Em 2016 houve 182 novos casos, um aumento de 72 por cento. Mas a comparação entre os meses de novembro desse ano e 2017 mostra um novo aumento de 51%, de 156 para 236.
A úlcera de Buruli é provocada pela bactéria Mycobacterium ulcerans, que produz uma toxina capaz de causar lesões destrutivas da pele e dos tecidos moles da área afetada. Da família dos organismos que provocam a lepra e a tuberculose, como explica a Organização Mundial de Saúde, começa, normalmente, por fazer um pequeno nódulo ou inchaço indolor, que acaba por abrir e criar uma úlcera sem contornos definidos, no espaço de quatro semanas. Pode mesmo afetar os ossos. Os casos de morte são raros, mas os de amputação não.
O pior é que não se sabe a origem da bactéria nem como se espalha entre humanos. Se em África, onde é mais comum, é associada a meios aquáticos, na Austrália, “parece haver mais uma transmissão terrrestre”, conforme explicou à CNN Andres Garchitorena, especialista em Buruli do Instituto francês de Investigação de Desenvolvimento, que não participou nesta nova investigação. Por que razão os casos estão a tornar-se mais graves é outra dúvida dos cientistas, que suspeitam, no entanto, que possa estar em causa uma resistência aos antibióticos.
“É dificil evitar uma doença quando não se sabe como a infeção surge”, alerta Daniel O’Brien, que liderou o estudo.
Para já, há uma pista: As lesões surgem sobretudo em áreas do corpo expostas, “sugerindo que picadas de inseto, contaminação ambiental ou trauma possam ter um papel na infeção.