É, basicamente, uma lata cheia de nada. Mas não engana. No rótulo, a “água desidratada biológica” da marca Future Essentials apresenta-se como “sem glúten, sem glutamato monossódico, sem corantes nem sabores artificiais”, o que, tecnicamente, é verdade. A descrição do produto na página da Amazon acrescenta que o produto “sabe melhor fresco, mas pode ser consumido à temperatura ambiente ou aquecido”. Também não é mentira.
Nunca se diz claramente que a “água desidratada” é apenas uma lata vazia que custa €16 – aliás, os outros artigos da Future Essentials são seriíssimos: alimentos em lata, desde bolachas, arroz e salsichas a ovos em pó comida para cão. Mas, no texto de descrição do produto, aflora-se o assunto. “Este produto é uma piada? Sim e não. Se achar que água desidratada existe, é consigo. Se comprar este produto, receberá mesmo uma lata de água desidratada.” Na secção de perguntas e respostas (da responsabilidade de clientes), alguém pergunta como misturar o produto, de forma a ter água. “Juntar água”, responde-se. “Claro que, se for usada água da torneira, [o produto] deixa de ser biológico.”
A partida não é nova. O conceito de latas com “água desidratada” nasceu há mais de 50 anos, quando, em 1964, a empresa de enlatados Bernard Food Industries começou a vender o artigo, por graça (o rótulo explicava que era necessário juntar água). Mas pode dizer-se que, nesta época de modas e tendências “saudáveis”, foi ressuscitada com um toque moderno. Além de não ter glúten e ser biológica, a água desidratada “não tem açúcar nem gordura, e tem zero calorias”. A ironia é confirmada pela frase “A prenda perfeita para aquela pessoa ‘que já tem tudo'”.
Os clientes que compram este produto também são adeptos de carne de unicórnio e creme de opossum (um pequeno marsupial) – que na realidade, e apesar das fotos sugestivas, consistem em latas com um unicórnio de peluche e “material orgânico composto não comestível”. Os três artigos são “frequentemente comprados juntos”, segundo se lê na Amazon, e custam, em conjunto, 29 euros.
Estes produtos são irónicos. Mas há outros disponíveis na Amazon que não o são, apesar de terem afirmações quase tão ridículas como estas. Há, por exemplo, um “sal marinho Celta sem glúten” (€4 por meio quilo) e “sal Morrisons adequado a veganos” (€1,25 cada 100 gramas), como se algum sal tivesse glúten ou carne. Ou uma embalagem de “12 garrafas de água mineral sem glúten”, da marca Spa Water (€14).
E nem é preciso ir a sites internacionais para encontrar afirmações heterodoxas. Na loja online Celeiro Internacional, encontra-se um “sal rosa dos Himalaias” com uma “estrutura molecular única que permite o armazenamento de energia vibracional, sendo, por isso, um sal energicamente muito rico e facilmente absorvido pelo organismo”. A ser assim, vale bem os €3,49/kg que custa.