Ali se contava a história de crianças, adolescentes, jovens adultos, mulheres e homens da comunidade islâmica portuguesa a apresentarem–se e a mostrar que a sua religião não os faz diferentes – como quem diz que o próximo passo é lembrarmo-nos como é muito mais o que nos une do que o que nos separa. A apresentação decorreu no TEDxMatosinhos, que decorreu na Porto Business School, estes dias 2 e 3 de dezembro.
Começámos por dar um passo até ao ano 500 d.C., quando nasceu Maomé, o fundador do Islão, conhecido entre os seus seguidores como o último profeta. Uns anos depois, durante a formação da Península Ibérica, encontramos vestígios da presença árabe um pouco por todo o lado. Deles herdamos invenções como a Nora e a Numeração, e a língua portuguesa ficou pejada de palavras começadas por “Al” (Algarve, Alcofa, Alfazema, Alguidar), mas também Açude, Açúcar, e a paisagem cheia de laranjeiras e outras árvores de citrinos.
Há ainda, sobejamente conhecida de todos, a expressão Terra de Mouros e quem encontre ligação entre as aparições de Fátima e o legado da adoração a Fátima, filha predileta de Maomé, associada a visões de luz.
Desde essa altura que também há registo de fanatismo e perseguição – e a mais religiões, basta lembrar a Inquisição e os judeus. Com os atentados da Al Qaeda, e depois do Daesh, acompanhados pela maior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial, deu-se uma nova viragem. No meio de uma enorme crise económica, foi fácil, para algumas cabeças, fazer dos muçulmanos os maus da fita, torná-los o bode expiatório dos males do mundo.
Nos Estados Unidos, em plena campanha presidencial de Donald Trump, que diabolizou a comunidade muçulmana na América, o vídeo Meet a Muslim (Conhece um Muçulmano) desconstruía essa visão e tornou-se viral. Como jornalistas, pensamos que Portugal não poderia ficar fora deste movimento: calcula-se que vivam cá 50 mil muçulmanos, há cerca de 35 mesquitas e outros locais de culto, uma comunidade bem integrada – e participativa: nos recentes fogos que assolaram o país, a Fundação Aga Khan, que escolheu Lisboa para a sua sede mundial, doou 500 mil euros para as vítimas de Pedrogão Grande, e mais recentemente, mais cem mil para ajudar a recuperar o Pinhal de Leiria.
Foi então que chamámos alguns dos seus representantes para um vídeo em português.
Chamámos-lhe Nós, Muçulmanos.