“Todas as pessoas sobre as quais escrevi neste livro eram tão tímidas no final das suas vidas como no início”. A declaração do autor e historiador Joe Moran, autor do livro “Shrinking Violets – um guia de campo da timidez”, ilustra bem o caráter permanente desta característica. “Sempre encontravam formas de esconder ou canalizar a sua timidez”, explica Moran, mas nunca a ultrapassavam completamente.
Mas embora a um extrovertido pareça impossível viver com timidez, o autor realça que este traço de personalidade tem até vantagens, ou, como as designa, “recompensas acidentais”. Seguem-se três exemplos:
Capacidade de observação
O poeta britânico Siefiried Sasson falava do “desejo de sentar-se e observar os demais sem ser visto, como um fantasma”. Moran explica que os tímidos se dedicam a observar os outros à distância, muitas vezes com uma certa ironia, não só porque consideram interessante fazê-lo como também devido à frequente incapacidade de participar.
O problema? O autor refere que com esta tendência de observar os outros, os tímidos acabam por ver, muitas vezes, o que os outros observam neles. Por exemplo, recorda Moran, a vergonha que passava Charles M. Schulz no comboio quando se deslocava a Chicago para tentar vender os seus desenhos, porque a enorme capa em que transportava as histórias de Charlie Brwon (outro tímido, a propósito) chamava a atenção dos outros passageiros. Os tímidos sentem, muitas vezes, que são “a única pessoa do mundo”, confessava Schultz, o que justifica a convicção de que a nossa aparência ou o que fazemos “tem alguma importância”.
Maior facilidade na escrita
Os tímidos expressam-se melhor por escrito do que oralmente e são vários os escritores tímidos que aparecem no livro de Moran. Agatha Christie, por exemplo, que criou alguns personagens completamente diferentes de si própria: “Se tens o duplo fardo da timidez aguda e de só saber o que dizer ou fazer 24 horas mais tarde, o que podes fazer? Só escrever sobre homens de pensamento rápido e raparigas com muitos recursos, cujas reações são rápidas como um relâmpago”, dizia Christie.
Criatividade
Moran cita a zoóloga e etóloga Temple Grandin sobre a origem da arte: enquanto os machos alfa contavam os bisontes que tinham caçado durante o dia, os tímidos e os introvertidos “retiravam-se para produzir a primeira arte humana”.
Nem todos os tímidos são pessoas criativas e nem todas as criativas são tímidas, mas o autor realça que a arte é usada muitas vezes pelos tímidos para se fazerem ouvir, como “uma forma de comunicação assimétrica, sem garantia de obter resposta” e a que recorrem “quando todos os outros tipo de diálogos fracassaram”.