Se segurarmos alguma coisa durante algum tempo, seja ela completamente gelada ou então extremamente quente, é possível que comecemos a sentir dor. Porquê? A resposta está num artigo publicado no site da BBC, que diz que o nosso cérebro responde às duas sensações de forma muito parecida: repelindo-as.
O sistema somatossensorial é o sistema que permite aos seres humanos sentir as sensações físicas de pressão, temperatura e dor. As células recetoras responsáveis pela perceção da dor chamam-se nocicetores. Quando existe um estímulo, seja ele mecânico, térmico ou químico, a resposta da nociceção é tentar fugir ao máximo. Por isso, se colocarmos a mão sobre fogo, é natural que o nosso cérebro nos comande retirarmos de lá a mão imediatamente. Se não o fizer, algo está errado.
Jorg Grandl, neurologista da Universidade Duke, explicou ao site britânico que os neurónios sensoriais projetam, ao longo do corpo, um conjunto de canais que ativam diretamente quando a temperatura é quente ou fria. Um desses canais tem o nome de TRPV1 e responde a sensações de calor extremo. Quando a pele ultrapassa o limite de 42º Celsius, o canal aciona e ativa o nervo para a sensação de dor.
No caso de haver frio extremo, o canal a ficar ativado não é este, mas sim o TRPM8. Existe ainda outro, o TRPA1, mas sobre este sabe-se muito menos do que os outros – apenas que responde a um estímulo também extremamente frio. Juntos, estes três canais permitem que a pele consiga responder de forma condicente com os estímulos e, por serem nocicetores, têm o objetivo de nos fazer fugir de determinadas temperaturas, provocando, por isso, a sensação de dor.
Em investigações feitas em ratos – que também têm estes canais – conseguiu-se perceber que, por exemplo, os ratos com o canal TRPM8 defeituoso já não evitam eficazmente a dor. Isto significa, segundo diz a BBC, que os ratos, e nós os humanos, provavelmente, não procuram de forma ativa temperaturas agradáveis. “Em vez disso, eles evitam, ativamente, o frio e o calor extremo, o que explica por que eles parecem preferem ambientes quentes e amenos”.
E, por curiosidade, já alguma vez sentiu, ao tomar banho, que a água que corria a uma temperatura extremamente quente dava, ainda assim, a sensação que estava fria? Segundo a revista Smithsonian, a maioria dos cientistas apoia a teoria de que este “frio paradoxal” resulta do mau funcionamento do sistema termocetor. Lynette Jones, cientista no Massachusetts Institute of Technology, explica que os recetores que respondem a níveis de calor e de frio potencialmente nocivos coexistem nas mesmas fibras sensoriais. Por isso, às vezes, o sinal pode ser mal interpretado. Este “frio paradoxal” é “uma estranha operação de um sistema que está sob condições de estimulação incomuns”, diz.