Logo aos 18 anos, Bruno Nascimento deixou crescer a barba para perder a “cara de bebé”. Hoje, não hesita: “É uma questão de masculinidade, mas também acaba por dar mais força ao rosto, ao definir as linhas do maxilar”, explica o mentor de Barba Brada, marca portuguesa de produtos para cuidar da barba. Há dois anos, já com 27, Bruno Nascimento (com a ajuda da sua namorada sérvia) decidiu pesquisar com que ingredientes são feitos os bons óleos. Estava farto de, a cada duas semanas de o pelo crescer, este ficar impossível de domar. Começava a encaracolar, as pontas espigavam e até a pele desidratava.
E então criou o seu próprio óleo. Uma “composição equilibrada” à base de óleos de jojoba, de amêndoas e de rícino. Assim nascia a Barba Brada (brada em sérvio significa barba), de vendas online (barbabrada.com). “A nossa marca veio mostrar que ter barba é apenas ter um estilo diferente”, diz Bruno, que entretanto já “inventou” mais óleos feitos só com produtos naturais. São cinco os aromas à escolha (€16,95/30 ml): Wild Woods (amadeirado), The Original (tradicional), Tejo (fresco com jasmim e lavanda), Citrous Fall (adocicado com laranja) e Black Rum (intenso). À oferta, acrescentou ceras para bigode e para barba, e champô. Hoje, com uma centena de encomendas semanais, ajuda os homens entre os 21 e os 45 anos, de Lisboa, do Porto e até das ilhas, a tratarem do rosto. Enquanto o óleo hidrata e tem um maior efeito nas barbas pequenas, a cera ajuda a moldar as barbas mais crescidas. Deve-se aproveitar quando os poros estão abertos depois do banho para aplicar quatro a cinco gotas.
Barba para relação séria
Até há uns meses, era a barba farfalhuda, tipo lumberjack (lenhador) a dominar os rostos masculinos. “Os meus clientes estão a deixar os estilos hipster para trás. No entanto, como é uma imagem muito forte, vão reduzindo para uma barba à italiana, aquela de três dias”, conta Miguel Leão, 41 anos, dono da Barbearia Belarmino, em Lisboa. Por cá, as barbas usam-se preenchidas e estilizadas, mas, alerta Miguel, o pelo muito comprido implica, pelo menos, ida ao barbeiro uma vez por semana e a aplicação de óleos – e nem todos estão para aí virados. “O homem só tem o cabelo e a barba como opções para mudar de visual. Com barba sente-se mais respeitado e mais protegido, ganha uma certa masculinidade e afirma-se socialmente”, explica o barbeiro, que aos 14 anos, “por brincadeira”, começou por “tosquiar os cães e depois os amigos”. Sem falar da sua experiência, Miguel também sabe que os homens com barba ficam mais atraentes para as mulheres. Uma ideia corroborada por um novo estudo, recentemente publicado no Journal of Evolutionary Biology, que mostra que as relações duradouras ou as de uma só noite podem ser uma questão de barba. As 8 520 mulheres que participaram no estudo consideraram os homens com barba melhores para relacionamentos prolongados, enquanto os rostos imberbes são mais atraentes para quem procura casos passageiros. Em causa está a testosterona, sinónimo de maturidade.
Então, e os homens literalmente imberbes? Muitos já estão dispostos a pagar entre €1 500 (preenchimento de uma zona) e €5 000 (barba completa com dois dias de sessões) para fazer implantes. A técnica capilar que, há vinte anos, era usada apenas nos rostos de vítimas de queimaduras graves, tem ganho força como segredo de beleza, nos últimos cinco anos, em Inglaterra e na Alemanha, tendo chegado a Portugal há dois anos. “Enquanto a falta de cabelo afeta a autoestima de uma forma destrutiva, os homens que chegam à clínica para fazer implante de barba é por uma questão de vaidade, querem ficar mais bonitos”, explica Isabel Soares, médica do DHI Global Medical Group, com clínicas em Lisboa e no Porto – que só aconselha o implante depois dos vinte anos, para se ter a certeza que o pelo já chegou ao máximo do seu crescimento. E se antes a técnica era “muito agressiva”, com necessidade de retirar uma faixa de pele da zona occipital (nuca) – a única onde não se perde cabelo, porque esses cabelos são diferentes, não têm o recetor para a hormona da testosterona –, agora os folículos são tirados um a um. Por cá, nos últimos dois anos, ainda não chegámos aos números de Paris (270) ou Londres (185), mas 61 portugueses já fizeram implante de barba entre 2015 e 2016, na sua maioria entre os 25 e os 35 anos. Um processo com anestesia local e de resultado imediato. Depois, é só perguntar: “Espelho meu, espelho meu, há alguém mais bonito do que eu?”