20, 50, 100, 500 euros. Há cremes anti-rugas com preços elevados, fruto de uma indústria cosmética que aposta em força no filão do combate ao envelhecimento. Mas, e se lhe dissermos que um dos princípios ativos mais eficazes está disponível nas farmácias por menos de 3 euros?
A tretinoína, também chamada de ácido retinóico, é um derivado do núcleo da Vitamina A criado no final da década de 60 e desde então muito usado no tratamento do acne tanto em creme como, no caso da isotretinoína, por via oral. Além dessa utilização, vários estudos comprovaram que a tretinoína é uma das substâncias mais eficazes no combate às rugas, manchas e envelhecimento da pele, e está por isso a ser recomendada por muitos dermatologistas com este propósito. Afinal, que substância é esta, como é utilizada e o que dizem os médicos?
Contactados pela VISÃO, Miguel Peres Correia, Diretor do departamento de dermatologia da CUF Descobertas e António Pinto Soares, Diretor clínico da Sequine, uma clínica de dermatologia em Lisboa, ambos confirmam: a tretinoína, muito barata, é eficaz a combater o envelhecimento da pele e é possível que estejamos a gastar demasiado dinheiro em cosmética.
Benefícios comprovados da tretinoína
“A tretinoína atua na chamada ‘ceratinização’, ou transformação córnea da epiderme, e promove a formação de colagénio, tornando a pele mais fininha. Ou seja, é um substância ativa na renovação celular”, explica António Soares.
Miguel Correia acrescenta: “No que diz respeito ao tratamento antirrugas funciona de duas formas: tem o benefício inerente a todos os métodos de peeling superficial porque funciona nas alterações mais à superfície (como manchas e rugas finas) e tem um beneficio de fundo respeitante ao facto de estimular a produção de colagénio e glicosaminoglicanos”. O médico referiu ainda que esta ideia é “inquestionável do ponto de vista científico porque não tem só por base o feedback dos pacientes, há biópsias que demonstram o rejuvenescimento da matriz da derme”.
A boa notícia: o preço
Os cremes com esta substância são considerados medicamentos, porque interferem com a morfologia da pele, mas não são comparticipados. Podem ser encontrados na farmácia a valores bastante acessíveis (por exemplo, um dos mais conhecidos chama-se Ketrel e custa menos de três euros na farmácia, mas sujeito a receita médica).
Nos Estados Unidos, por exemplo, estes cremes têm valores incrivelmente mais elevados e os americanos compram-nos muitas vezes no México, onde os preços são mais baixos. Curiosamente a razão não está na origem, porque a tretinoína foi criada por dois dermatologistas americanos, Albert Kligman e James Fulton.
“Será que gastamos demasiado dinheiro em cremes antirrugas?”, perguntámos aos médicos que apontaram essa possibilidade, sem cair em generalizações. “Há investigação de ponta em cosmética e produtos de uma sofisticação técnica extraordinária mas também há produtos que, por aquilo que têm, não têm um preço justificado. Seja como for, a pele tem impressões digitais que nos distinguem de cada um dos restantes sete biliões de seres humanos. Ou seja, as abordagens terapêuticas são muitas e não há uma só resposta a isso mas esta é uma ótima ferramenta com grandes mais-valias e a baixo custo”, diz Miguel Correia.
“Se gastamos ou não muito dinheiro é difícil de generalizar. Mas, de facto, há cosméticos muito complexos e isso não é necessariamente bom. Muitos produtos num creme, por exemplo, são vendidos como algo de muito positivo mas até aumentam a probabilidade de sensibilizar a pele e provocar eczemas. No caso da tretinoína uma coisa é certa, como os cremes são baratos, ninguém os promove”, disse António Soares.
Atenção aos efeitos secundários
Mas atenção, nem tudo são rosas com este produto. A tretinoína tem um efeito fotossensibilizante, o que significa que tem efeitos nefastos quando em exposição solar, e pode provocar nalgumas pessoas vermelhidão, irritação da pele, escamação (na lógica do peeling) e secura durante um certo período de tempo. Há quem não sinta nenhuns efeitos secundários e na maioria dos casos é apenas uma situação passageira que desaparece ao fim de alguns dias, mas por vezes pode prolongar-se. E há quem não possa usá-lo. “Há peles que não toleram de todo e também há pacientes que não aguentam e suspendem o tratamento”, alerta António Soares. É preciso pois ter sempre o conselho de um médico.
Modo de utilização
Não há uma só fórmula, mas o que é normalmente prescrito é introduzir, à noite, uma pequena dose (uma ervilha) do creme aos poucos juntamente com um hidratante barato, até a pele se ir adaptando ao produto. Primeiro duas ou três vezes por semana e só depois introduzir gradualmente mais vezes. No entanto, o tratamento não está indicado para grávidas e “pessoas com peles muito claras ou muita exposição solar” segundo António Soares e “deve ser, como em qualquer regime antienvelhecimento, acompanhado de um protetor solar e de hidratantes, dados os efeitos de secura que provoca na pele”, diz Miguel Correia.
O recomendado é consultar um dermatologista para adequar o seu tipo de pele ao modo de utilização, que varia consoante a idade e o estado de envelhecimento da pele, a época do ano, o consumo ou não de tabaco ou a atividade profissional.
Uma coisa é certa. Seja qual for o produto ou o método, o melhor é começar cedo a pensar no assunto. “O envelhecimento começa cedo – há alterações de envelhecimento detetáveis logo aos 19 e 20 anos. Ora, considerando que vivemos cada vez mais tempo, é util começar cedo”, afirma Miguel Correia.
(Artigo escrito por Carolina Bernardo Pereira e Sara Soares)