Numa das estações de comboio da cidade de Tokio, há filas de jovens em frente a umas cortinas cor-de-rosa. Por trás delas, vêem-se cabinas telefónicas, como as de antigamente.
Pegando no auscultador, os japoneses podem ligar para um serviço especial, em que cantoras e atrizes do mundo cibernáutico estão do lado de lá. Com elas, falam de amor, sonhos e fantasias – assim são felizes, pelo menos enquanto dura a chamada.
É que o amor de verdade está fora de moda no Japão. Ser comprometido deixou de fazer sentido para os mais novos. São dados do Governo nipónico, que se apoia em inquéritos: 69% dos homens e 59% das mulheres não têm companheiros. E mais de 40% dos jovens com menos de 34 anos ainda é virgem.
Não será por acaso que, nos últimos meses, os japoneses mudaram o sentido do termo herbívoro, que a socióloga Maki Fukusawa tinha popularizado para definir os homens que recorriam à prostituição para não terem de procurar uma parceira. Hoje, a definição mudou e serve para agrupar as pessoas que se resignaram a que o sexo seja sempre solitário, porque de outra forma dá muito trabalho e sai caro.
Esta situação só pode assustar os governantes. Até porque o Japão é o país com os índices mais altos de longevidade e com uma baixíssima taxa de natalidade (só nascem 8,4 crianças por cada mil habitantes).
A justificação para o sexo a solo reside, segundo os nipónicos, na crise económica (os salários baixaram para metade ou um terço do que era norma nos anos 1980). Manter uma namorada, por exemplo, representa um gasto que muitos prefrerem ter com brinquedos sexuais ou companheiras virtuais – aparentemente o retorno prolonga-se mais no tempo.
Claro está que, a par desta tendência, cresceu uma indústria, onde até se inclui clubes de ajuda a homens solteiros. E as tais cabinas de que se fala no início deste texto. Cada vez mais, os artigos das sex shops se orientam para suprir a falta de sexo e, especialmente, de carinho. Os brinquedos que mais se vendem são os que representam fielmente a vagina de uma atriz porno famosa, assim como as cuecas assinadas pelas estrelas de filmes X.