O planeta Terra é ainda mais frágil do que se pensa. Além da subida dos oceanos, e consequentes cheias, aumento da frequência e intensidade dos fenómenos extremos, secas e inundações, as alterações climáticas podem ainda desencadear tsunamis, sismos e vulcões.
Esta é a tese detalhada num livro agora publicado pelo geofísico Bill McGuire, Waking the Giant: How a Changing Climate Triggers Earthquakes, Tsunamis and Volcanoes, (Acordar o Gigante: Como é que as Alterações Climáticas Desencadeiam Sismos, Tsunamis e Vulcões).
Num artigo publicado no jornal britânico The Guardian levanta-se o véu sobre alguns dos exemplos que servem de base a esta tese. “A fina camada de gases que sustenta o clima e promove o aquecimento global interage de facto com a parte sólida da Terra – a chamada geosfera – de forma a tornar as alterações climáticas numa ameaça ainda maior”, escreve o professor emérito da University College, em Londres.
Os exemplos parecem “rebuscados”, para usar a expressão do próprio Bill McGuire, mas os dados avolumam-se e a teoria tem vindo a ganhar peso, sobretudo desde a publicação de um artigo na revista Nature, em 2009, em que se relata, por exemplo, a ligação entre os tufões na Formosa e a ocorrência de pequenos tremores de terra por baixo da ilha. A explicação para esta relação passa pela reduzida pressão atmosférica que caracteriza os tufões, permitindo que as falhas sísmicas no interior da crosta se desloquem mais livremente, libertando a tensão acumulada.
Outro fenómeno explorado no livro é a relação entre as fortes chuvas tropicais associadas aos ciclones tropicais, causando inundações, e os tremores de terra. É possível que as águas tenham um efeito de lubrificação dos planos de falha ou ainda que a erosão do deslizamento de terras causado pelas chuvas torrenciais reduzam o peso de uma falha que esteja por baixo, permitindo que se desloque mais facilmente. Terá sido isso que aconteceu no violento sismo do Haiti, em 2010, que matou 220 mil pessoas e se seguiu a um furacão. Aliás, já há muito tempo que se conhece a relação entre a atividade sísmica nos Himalaias e as chuvas tropicais.
Na ilha caribenha de Montserrat, as chuvas fortes têm estado relacionadas com erupções vulcânicas do vulcão ativo Soufrière Hills. No Alasca, o vulcão Pavlof parece responder a pequenas oscilações no nível do mar. Quando sobe, o mar dobra a crosta por baixo do vulcão, permitindo que o magma se escape, “como pasta-de-dentes”.
Os exemplos sucedem-se. Mesmo assim, esta relação é ainda apenas uma teroria, que parece vir dar razão aos antigos quando falavam em “tempo de tremor de terra”.