É um sintoma associado a vários distúrbios mentais e outras doenças graves, como a de Parkinson. Mas as pessoas saudáveis também podem sofrer de alucinações em algum momento da vida, seja por efeito de drogas, na sequência de muitas noites mal dormidas ou em episódios severos de enxaqueca. Sendo, no entanto, acontecimentos imprevisíveis, difusos e que variam de pessoa para pessoa, tornam difícil o seu estudo – e até hoje a ciência não conseguiu entender a fundo os mecanismos no cérebro que os desencadeiam.
É por isso que um grupo de cientistas australianos e americanos, da Universidade de New South Wales e da Universidade de Pittsburgh, está entusiasmado com os resultados do teste que criou, capaz de induzir a mesma alucinação em pessoas saudáveis, através de um simples vídeo de dez segundos.
“Sabemos há mais de 100 anos que luzes a piscar podem levar quase toda a gente a experimentar uma alucinação, mas a imprevisibilidade, complexidade e natureza pessoal dessas alucinações fazem com que seja difícil medi-las cientificamente”, explica o australiano Joel Pearson, principal responsável da investigação que permite “superar este desafio chave” pela primeira vez. “Com a nossa técnica”, sublinha o neurocientista cognitivo, “eliminamos a imprevisibilidade”. E não só: ao provocar a mesma alucinação em quase todas as pessoas submetidas ao teste, os cientistas “podem começar a investigar objetivamente”, e em larga escala, “os mecanismos subjacentes” a estes episódios. O que abre horizontes não só para uma melhor compreensão das alucinações, mas também para novas forma de tratamento.
O teste consiste em fixar o olhar num ponto no centro do ecrã, enquanto um círculo branco anda à volta sob um fundo preto. Pode experimentar agora, se quiser. Use a opção de ecrã completo.
(Nota importante: apesar de parecer inofensivo, é desaconselhado a pessoas com doenças mentais ou com um historial de epilepsia ou enxaquecas)
Quase todos acabam por ver manchas em tons de “cinzento pálido” no interior do círculo. Mas não passa de uma alucinação visual, como garantem os cientistas. É fácil provar: basta clicar em pausa para confirmar que o círculo é branco e as manchas cinzentas não existem.
Testes posteriores, em que as pessoas visualizaram o vídeo com um olho fechado de cada vez, já permitiram confirmar que é no córtex visual – a zona do cérebro que processa as imagens – que ocorrem as alucinações. O passo seguinte é realizar a experiência em doentes com Parkinson.