Ainda este mês lá esteve, a distribuir mais presentes e a arrancar sorrisos nas crianças de Aleppo, mas esta terça-feira recebeu uma má notícia: o habitual local que serve de ponto de encontro com as crianças ficou destruído pelos bombardeamentos da aviação russa, segundo lamentou na sua conta de Facebook, onde partilhou um vídeo dos destroços.
Rami Adham anda há mais de quatro anos a cruzar a fronteira da Síria para ajudar as crianças da sua cidade natal. Emigrado na Finlândia desde 1989, este pai de seis filhos decidiu que não podia ficar indiferente à guerra civil que rebentou no seu país. Pensou em levar comida e outros bens de primeira necessidade à população, mas a sua filha Yasmeen deu-lhe outra ideia, quando se ofereceu para dispensar alguns dos seus brinquedos.
Este mês, Rami fez a sua 28.º incursão por Aleppo durante a guerra, atravessando a fronteira por ‘portas e travessas’, uma vez que desde 2014 que se começaram fechar as entradas no país. Na bagagem, brinquedos. Sacadas de brinquedos, muitos deles em forma de peluche. “Dou 10 dólares a um miúdo e ele não sabe o que fazer com aquilo. Mas dá-lhe uma bola ou um peluche e ele sabe mil coisas para fazer. Isto é a terapia mental deles”, afirmou o ‘contrabandista de brinquedos de Aleppo’, como é mais conhecido, numa reportagem da NBC News. “Eles não sentem que estamos apenas a oferecer-lhes um brinquedo, sentem que os estamos a apoiar. Damos-lhe a segurança de saberem que, aconteça o que acontecer, estamos lá por eles”, acrescentou à estação televisiva americana.
O que aconteceu ontem é mais um revés no ‘contrabando’ de Rami Adham, mas já passou por tantos que não será este a travá-lo na sua missão quase impossível de levar um pouco de normalidade aos ‘filhos da guerra’. Passar a fronteira e avançar até Aleppo, a cidade mais massacrada pela guerra, é uma aventura. Corre-se risco de vida. O perigo tanto pode vir do ar, de onde chovem bombardeamentos, como do solo, onde as forças rebeldes combatem as do regime e civis morrem todos os dias.
Para Rami, tornaram-se um hábito os carregamentos clandestinos de brinquedos, estrada fora. Na primeira viajem, além de barbies e outros presentes doados pelos seus filhos, levou também comida e outros mantimentos. Mas agora não transporta qualquer outro material além dos peluches e afins. Passou a levar dinheiro vivo e, uma vez na Síria, abastece-se de comida e medicamentos para fazê-los chegar mais facilmente à zona de guerra.
O sucesso da sua iniciativa deu entretanto origem a uma associação da comunidade Síria na Finlândia e é através dela que está a angariar fundos para um novo projeto. De brinquedos, diz na sua página de Facebook, não precisa de mais doações, pois já “chegam ao teto” da sua casa em Helsínquia. A ambição de Rami Adham passa agora por “construir escolas na Síria, junto à fronteira com a Turquia”, onde o conflito não chega. Ali, sabe que não haverá bombardeamentos como o que ontem destruiu o seu ponto de encontro com as crianças em Aleppo. E por isso prefere contributos em dinheiro para investir na educação das crianças.