São já dezenas os “clubes do caixão” (coffin club, no original) na Nova Zelândia, grupos de pessoas que se encontram para fazer caixões e, já agora, amigos com quem enganam a solidão. A ideia partiu da enfermeira Katie Wiiliams, especialista em cuidados paliativos, que estava cansada de ir a funerais “sem sentido”, disse ao Guardian.
“Vira muita gente morrer e os seus funerais não tinham nada a ver com a vibração e a vida dessas pessoas. Não ficávamos a saber como eram mesmo, que tinham rido e amado. Senti que mereciam uma despedida mais pessoal.”
Katie Williams começou, então, um primeiro clube na sua garagem. Sem ambições, ferramentas ou voluntários. E sem fazer ideia de como se construíam caixões. Chamou-lhe Kiwi Coffin Club, pediu ajuda a uns vizinhos que sabiam trabalhar com madeira e todos os membros fizeram o seu próprio caixão e, até, caixões para serem doados.
Pelo caminho, Katie decidiu que o clube também havia de servir de ponto de encontro e de conversas. “Há muita solidão entre os mais velhos, mas no nosso clube as pessoas sentem-se úteis. E socializamos muito. Tomamos chá, almoçamos, ouvimos música, abraçamo-nos, divertimo-nos.”
Seis anos depois, conta que os “clubes do caixão” são particularmente apelativos junto do povo Maori, em que as famílias são habitualmente numerosas e modestas. Na Nova Zelândia os funerais têm custos muito elevados; um caixão feito em casa pode ficar por 250 dólares neozelandeses (cerca de 160 euros).
Fica barato e é habitualmente personalizado, com pinturas alusivas à vida de quem o vai usar. E, agora que os desenhos para se construir um caixão como deve ser já estão acessíveis a quem quiser formar um clube, sobra tempo para apostar na decoração. E rir muito durante todo o processo. “Temos um mote”, diz Katie. “É uma caixa até ter alguém lá dentro. E, enquanto é só uma caixa, une-nos.”
Não foi exatamente isso que pensou Jeanette Higgins, de 77 anos, quando decidiu ir a um clube da sua zona depois de ter ficado viúva de de ter perdido a filha, no espaço de dois anos. “Inicialmente, fiquei um bocadinho impressionada”, contou ao Guardian, “e não conseguia decidir como ia decorar o meu caixão. Mas, quando começamos a trabalhar, a lixar a madeira e a pintar, já não pensamos nisso [na morte]. E eu sou da opinião de que devemos encarar o inevitável. É uma experiência emocional, e ajuda a resolver alguma coisa. Agora, sinto-me bastante preparada, e tenho-o guardado num armário em casa, à minha espera.”