Em Portugal, estima-se que pelo menos oito em cada cem crianças sofram de alergia alimentar, e que nos adultos a prevalência seja mais baixa, cerca de 5%, segundo o manual Alergia Alimentar para a Restauração, realizado no âmbito do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, apresentado em maio, pela Direção-Geral de Saúde. Outros dados recentes reportam que a alergia alimentar aumentou 18% numa década e, em particular no caso das crianças, este aumento é de 50%, refere o manual preparado pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação e pela Faculdade de Medicina, ambas da Universidade do Porto. Atualmente, a maior taxa de alergia alimentar no mundo pertence às crianças australianas com dez em cada cem. Neste país, entre 1998 e 2012 houve um aumento de 50% de visitas hospitalares por choque anafilático, a reação alérgica mais grave que pode sufocar e levar à morte. Bebés e crianças foram os responsáveis por grande parte desse aumento.
As alergias mais comuns, que provocam 90% das reações, pertencem a nove proteínas alimentares principais: leite de vaca, soja, ovo, trigo, amendoim, nozes, sésamo, peixe e marisco, sendo o ovo e o amendoim mais comuns em crianças e bebés.
Uma recente pesquisa publicada esta quarta-feira, 21, no Journal of the American Medical Association mostra que a introdução precoce de ovo (entre os quatro e os seis meses) e de amendoim (entre os quatro e os onze meses) está relacionada a taxas mais baixas de alergia a estes alimentos. Investigadores têm uma certeza “moderada” de que os lactentes devem receber potenciais alimentos alérgenios, para ajudar a prevenir desde cedo graves reações. Os investigadores analisaram os resultados combinados de diversos ensaios sobre se os alergénios na dieta dos bebés impediam ou não o desenvolvimento da alergia. Concluíram que quanto mais cedo começarem a comer estes alimentos menor é a taxa de alergia. O uso do termo “moderado” resulta de não existir uma uniformidade nos vários estudos. Em alguns, tanto os participantes como os investigadores sabiam quem tinha ingerido ovo ou amendoim.
Já este ano, em março, um outro estudo feito por investigadores americanos e britânicos defendia que os efeitos benéficos de alimentar bebés com produtos à base de amendoins poderia diminuir o risco de alergia em 80 por cento. Foram estudadas 550 crianças consideradas sob risco de desenvolver alergias (porque tinham sofrido de eczema em bebés) e concluíram que se existir consumo nos primeiros 11 meses de vida, uma criança de cinco anos pode parar de comer amendoins durante um ano e, ainda assim, não desenvolver alergias. “Acreditamos que o medo de alergias alimentares é o que chamamos de profecia auto-realizável: o alimento é excluído da dieta e, como resultado, a criança não desenvolve tolerância”, disse à BBC Gideon Lack, um dos principais autores do estudo. Metade da amostra comeu alimentos à base de amendoim enquanto bebés e a outra metade apenas se alimentou de leite materno. De acordo com os cientistas, aos seis anos não havia crescimento estatístico significativo em alergia após 12 meses de interrupção no consumo nas crianças que tinham ingerido amendoins.