Um resultado em duas horas, em vez de dois ou três dias. A diferença entre a vida e a morte. Um kit de diagnóstico e um software simples e fácil de usar preparam-se para revolucionar a forma como se atacam as infeções causadas por bactérias, em particular as resistentes a antibióticos.
O produto, desenvolvido pelo consórcio europeu FAST-bact, acaba de ser apoiado pelo programa de financiamento Horizonte 2020, através do FTI (Fast Track to Innovation), a componente de promoção da inovação na fase de aproximação ao mercado, sendo apoiados conceitos inovadores, maduros, que já tenham sido testados.
No caso, o kit FAST-bact começou a ser desenvolvido há 15 anos, por um grupo de cientistas ligados à Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, e vem ao encontro de uma necessidade com expressão mundial: a identificação de bactérias e da sua sensibilidade a antibóticos.
É sabido que a resistência a antibióticos é um problema que assume proporções de catástrofe no mundo desenvolvido. O uso e abuso destes medicamentos levou ao aparecimento de bactérias muito difíceis de combater, com os medicamentos mais usados. Com este equipamento, é possível perceber, em apenas uma a duas horas, qual o fármaco mais eficaz no combate a uma infeção. O método tradicional, usado nos hospitais de todo o mundo, depende da cultura de células, o que obriga a esperar dois a três dias para se ter um resultado. Neste tempo, o doente pode estar a ser tratado com um medicamento errado e, no caso de transportar uma bactéria resistente, ter contaminado outras pessoas, já que é impraticável isolar todos os doentes que chegam aos hospitais com uma infeção difícil de tratar.
“Avaliamos a suscetibilidade das bactérias aos antibióticos, através da deteção das lesões que ocorrem na própria bactéria quando esta é exposta ao medicamento”, explica a investigadora e fundadora da empresa FASTInov, líder do consórcio europeu, Cidália Pina Vaz. Um ideia que a investigadora classifica de “simples”. Mas a verdade é que, até agora, ninguém no mundo se tinha lembrado de uma coisa assim. “Temos recebido um feedback extraordinário”, revela Sofia Costa de Oliveira, outra das fundadoras da empresa.
O financiamento da Comissão será agora fundamental para dar início à fase de produção, que vai envolver uma empresa italiana. Além da FASTInov, também fazem parte do consórcio a empresa portuguesa Roboptics, a Euroclone Diagnostica (Itália) e a Profess Medical Consultancy BV (Países Baixos).
Iniciada a fase de produção, espera-se que o kit (que inclui um software de análise dos resultados também desenvolvido pelos investigadores do consórcio FAST-bact) seja vendido a hospitais, mas também a clínicas ou mesmo a centros de saúde de todo o mundo. “Não será um produto caro e é bastante fácil de utilizar”, sublinha Sofia Costa Oliveira. Contra grandes males, rápidos remédios.