Falar em alimentos desidratados numa página de tendências pode soar a contrassenso – o processo de retirar água aos alimentos para os conservar é tão antigo como os Fenícios, e era comum ainda antes de Cristo ter pisado a Terra. Também é verdade que quase todos os dias, se calhar sem pensarmos muito nisso, consumimos alimentos que passaram por esse procedimento, como o feijão, grão, orégãos, louro, ou figos e ameixas secas.
Mas o que nos trouxe até aqui foi a banalização. Constatámos que a variedade de produtos que hoje se encontram em qualquer supermercado é enorme e como, por isso, eles começam a tornar-se nos novos snacks saudáveis. Afinal, quem ainda não enviou, na lancheira que vai para a escola dos filhos, um pacotinho de maçã desidratada? Além destes pronto a comer, também estão à venda máquinas elétricas, desidratadoras de alimentos, com vários tabuleiros, que custam entre 80 e 90 euros.
A nutricionista Helena Cid, que por acaso tem quase sempre na sua carteira um pacotinho de gengibre desidratado, não podia estar mais contente com esta democratização de alimentos sem água. “Em termos nutricionais, os produtos mantêm as suas características.” Mas atenção, porque em algumas versões (as cristalizadas, por exemplo) é acrescentado açúcar ao processo. E, mesmo que assim não seja, este ingrediente estará sempre mais concentrado devido à ausência de água na fruta. Ou seja, os alimentos desidratados não devem substituir os seus originais, nem ser comidos sem culpa – como em qualquer caso, tudo o que é demais (e neste caso a leveza e o crocante conduzem facilmente ao excesso) é exagero.
COMER FORA DE ÉPOCA
As vantagens de comer estes morangos, maçãs, alperces, papaia, manga, cogumelos, tomates, e mais uma miríade de produtos que se encontram nos escaparates dos supermercados, é precisamente a sua leveza e facilidade de transporte. Cabem em qualquer bolso e são práticos de consumir em todo o lado.
Depois de desidratados, há quem os reduza a pó para, mais tarde, serem adicionados ao leite ou a um iogurte, só para dar dois exemplos. “Um dos grandes benefícios deste tipo de produtos é podermos preservar alimentos para fora da sua época”, nota ainda Helena Cid, lembrando o prazer de comer morangos secos no inverno.
Na restauração utilizam-se mais os legumes desidratados, porque como ocupam muito menos espaço facilitam as tarefas da distribuição e armazenamento, além de terem uma maior durabilidade.
Durante o processo de retirada da água, a segurança alimentar ganha pontos, porque se evita que os produtos desenvolvam micro-organismos ou bolor, ganhando uma vida muito mais longa, livre de contaminações. Da próxima vez que se atirar a um destes snacks, pense nisto tudo. E saboreie.
Para fazer em casa
Nas lojas de eletrodomésticos existem máquinas para retirar água aos alimentos, à venda, mas a versão homemade também tem os seus resultados, embora não seja propriamente de graça. Há que somar, ao esforço, a eletricidade que se gasta nas horas em que os produtos têm de estar no forno.
Aqui ficam as dicas para quem quiser experimentar:
> Os alimentos devem estar frescos
> Têm de ser lavados numa taça com água e limão para conservarem a cor e o sabor
> São descascados e cortados em fatias finas ou palitos
> Mantém-se o forno entre os 54 e os 60 graus (quanto mais baixa a temperatura, mais demora, mas nunca pode estar muito alta para não cozer)
> Os tempos de permanência no calor dependem do alimento em questão, mas podem demorar várias horas
> Os produtos vão ao forno num tabuleiro e a porta pode ficar aberta para a água evaporar melhor
> Antes de serem guardados num frasco hermético, há que arrefecê-los completamente, para não se correr o risco de haver condensação e ganharem bolor