Sintomas estranhos como rouquidão, uma sensação de corpo estranho (como quando se engole uma espinha), tosse que não passa, falta de ar ou uma mudança de voz (muitas vezes só detetada por terceiros) são sinais de que se deve consultar um otorrinolaringologista. “Qualquer rastreio serve para um diagnóstico precoce de uma doença, neste caso a patologia mais grave que se pode encontrar é o cancro da laringe. Apesar de ser grave, se for diagnosticado num estado inicial pode ser curável”, afirma Clara Capucho, otorrinolaringologista e coordenadora da Unidade da Voz do Hospital Egas Moniz, em Lisboa. A cirurgiã lamenta que os rastreios só se realizem nestas ocasiões, defendendo que deveriam estar sempre disponíveis. Em Portugal, surgem por ano 800 a mil novos casos de cancro da laringe, levando à morte de 400 pessoas. Apesar de a média de idades rondar os 60 a 70 anos, a patologia pode aparecer a partir da segunda década de vida. Para a prevalência alta tem contribuído o facto de cada vez mais mulheres fumarem.
Apesar de o Dia Mundial da Voz assinalar-se a 16 de abril, no próximo sábado, as iniciativas são antecipadas. De 14 a 16 de abril, todos que se dirigirem à Unidade da Voz do Hospital Egas Moniz, no edifício central de consultas externas, no piso 1, serão atendidos por um médico. Entre as 9 e 30 e as 18 horas, exceto no sábado que termina ao meio-dia, as pessoas inscrevem-se no local e serão chamadas por ordem de chegada. “Quem usa a voz como ferramenta de trabalho, como atores, cantores, locutores, professores, vendedores ambulantes, rececionistas, entre outros, à partida terão prioridade”, diz Clara Capucho. Os rastreios são acompanhados de pequenas atuações. O ator Pedro Giestas interpreta um monólogo à sua escolha (14 abr, qui 10h30) e Paulo Pires representa um trecho de uma peça que coloca os diferentes usos da voz em evidência (15 abr, sex 15h).
O programa inclui a estreia da peça A Voz no Espaço de Representação, no Teatro Ibérico na sexta-feira, 15, às 21 e 30. “Será um espetáculo dedicado à procura da nossa identidade vocal”, diz Luís Madureira, professor voluntário na Unidade da Voz do Hospital Egas Moniz e tenor que apresenta e conduz a peça. Sobem também ao palco os cantores Miguel Gameiro, Miguel Ângelo, Nuno Guerreiro, Paulo de Carvalho e Agir, Emanuel, Olavo Bilac, Anjos, Gonçalo Tavares, o tenor Jorge Baptista da Silva, a soprano Ana Madalena Moreira e a atriz Eunice Muñoz. Nessa noite, os Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa e a Fundação GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas assinam o protocolo que permitirá aos artistas terem consultas de voz, com laringoscopia incluída, a preços comparticipados pela Fundação.
Conselhos para cuidar da voz no dia-a-dia
– Não se deve pigarrear (sensação de limpar a garganta). É muito grave. Quando se faz uma limpeza da garganta (pigarro) isso vai causar um trauma no movimento das cordas vocais, podendo levar a lesões. Para não se pigarrear, momentaneamente, pode beber-se um gole de água
– Quando se tem tosse durante muito tempo, por se estar constipado ou de tipo alérgica, também vai fazer o mecanismo abrupto do encerramento das cordas vocais, que é um movimento que não é natural
– Quando se está constipado e/ou rouco não se pode continuar a falar ou a cantar. Sempre que se tem uma disfonia não se pode abusar das cordas vocais, pois leva a uma segunda inflamação
– O quente e o frio, seja no ambiente, seja nos alimentos, não fazem mal às cordas vocais. O que faz mal é a mudança abrupta de temperatura. É importante não haver choques térmicos rápidos que desequilibrem todo o mecanismo de aquecimento do ar a entrar e a sair, que no fundo é a voz
– Não se pode gritar sistematicamente. Mas não é por se dar um grito que se estraga a voz. Pode-se conseguir gritar, utilizando uma respiração normal e dentro da extensão vocal de cada pessoa, sem danificar as cordas vocais
– Sussurrar durante muito tempo também não é bom para a voz, porque apesar da falta de intensidade da voz, utiliza-se todo o mecanismo das cordas vocais