Sono insuficiente e desregrado aumenta risco de doenças cardiovasculares
15.03.2016 às 10h45
TOSHIFUMI KITAMURA/ Getty Images
Na semana em que se assinala o Dia Mundial do Sono (18 março), um alerta para a importância do sono e para as consequências nefastas da sua privação nos sistemas metabólico e cardiovascular
A Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono (APCMS) e a Sociedade Portuguesa de Hipertensão alertaram esta terça-feira que um "sono insuficiente e desregrado" aumenta o risco de desenvolver hipertensão arterial e de morrer por doença cardiovascular.
Na semana em que se assinala o Dia Mundial do Sono (18 março), as duas organizações alertam a população para a importância do sono e para as consequências nefastas da sua privação nos sistemas metabólico e cardiovascular.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da APCMS e investigador do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa, Miguel Meira e Cruz, explicou que "o sono interfere com a função cardiovascular".
"O sono interfere nestes mecanismos e ajuda a regular a função cardiovascular, mas se não o temos de forma adequada também apoia o processo de desestabilização destes mecanismo e o aumento da prevalência da hipertensão e do risco cardiovascular global", advertiu Meira e Cruz.
Esta posição é sustentada pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, José Mesquita Bastos, afirmando que "a ausência de um sono com qualidade é um risco cardiovascular acrescido e associa-se a um pior prognóstico da hipertensão arterial, com consequente risco acrescido de enfarte e acidente vascular cerebral".
As organizações alertam que os jovens constituem uma população de risco.
Segundo um estudo divulgado pela APCMS, apenas cerca de 20% dos adolescentes portugueses se aproximam do sono recomendado para o escalão etário (nove a dez horas) e que 12,5% dormem menos de sete horas durante a semana.
Os mais de 350 adolescentes envolvidos no estudos, 91,1% dos quais obesos, tinham "um sono claramente reduzido", um "mau hábito" que abrange todos os escalões etários, "com repercussões que, embora sejam distintas, na dependência do período da vida que afetam, são sempre negativas", frisou Meira Cruz.
O investigador citou ainda um estudo de 2012 que incidiu sobre cerca de 200 adolescentes da cidade de Lisboa e que mostrou que 34% destes eram hipertensos e que 12% eram colocados no `status` de pré-hipertensão.
"Nós sabemos que existe uma associação clara entre o sono e a desregulação metabólica associada à obesidade e ao excesso de peso que também se conjuga para a doença cardiovascular, nomeadamente isquémica", sublinhou.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão recorda que a hipertensão é uma doença silenciosa, que afeta órgãos como o coração, o rim e o cérebro e que muitas vezes é detetada apenas quando já existem lesões irreversíveis.
"Existem fatores genéticos que determinam parte do risco. Porém, sabendo do contributo de outros fatores ambientais, como a alimentação, o consumo de sal e o sono, e a eficácia das medidas que podem ser aplicadas a estes níveis, é muito importante atuar, antes que seja tarde", defendeu Mesquita Bastos.
Apesar da existência de resultados que "podem num ou noutro momento causar alguma controvérsia", Meira Cruz assegura que "a relação entre privação de sono e risco de mortalidade cardiovascular é inequívoca e que vale a pena refletir, sobretudo numa perspetiva profilática, sobre a urgência de adquirir hábitos e padrões de sono saudável".
Nas vésperas de se assinalar o Dia Mundial do Sono, o especialista deixou uma mensagem: "Vale a pena prevenir, durmam bem antes que seja tarde".
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