O anúncio correu mundo em março do ano passado: uma investigadora portuguesa tinha descoberto como é que as células cancerígenas infetavam as saudáveis. Segundo esse estudo, publicado na conceituada revista Nature, bastava uma análise ao sangue, uma proteína a fazer de bandeira e ficava-se a saber se o cancro do pâncreas estava lá – mesmo se a lesão não fosse visível numa ressonância magnética. A investigação foi logo considerada um primeiro passo para se conseguir o diagnóstico precoce deste tipo de cancro, um dos mais letais, porque quase sempre é detetado demasiado tarde.
Mas, agora, acusada de ter manipulado dados no seu trabalho, tudo se esfumou no ar. Sónia Melo foi obrigada a retirar um artigo científica, já perdeu a bolsa de investigação, no valor de 50 mil euros, e o seu vínculo ao i3S – o Instituto de Investigação e Inovação da Universidade do Porto está a ser investigado.
De acordo com o jornal “Público”, as dúvidas sobre o trabalho de Sónia Melo foram levantadas em setembro do não passado. Foi nessa altura que o portal PubPeer, que se dedica a fazer a revisão dos trabalhos publicados, divulgou os primeiros indícios de que a investigadora tinha repetido uma mutação genética de um cancro num artigo de 2009. Nos dias seguintes, noutras publicações da mesma plataforma, surgiram outras provas de que a cientista repetia, invertia e fazia rotações das mesmas imagens de modo a reforçar a solidez dos dados alcançados na sua investigação.
O assunto acabaria por ganhar novo fôlego quando Sónia Melo ficou entre os nove cientistas europeus a ganhar uma bolsa de 50 mil euros anuais. As dúvidas chegaram a outros sites científicos e a 27 de Janeiro foi a própria investigadora que acabou por assumir a duplicação de imagens.