“Preocupa-nos o caso da Bárbara Guimarães mas também o de outras vítimas, porque o importante aqui é insistir para que façam queixa e saiam desse ciclo de culpabilização e vergonha. Chegar depois a uma audiência e ouvir uma juíza dizer coisas destas não ajuda “, sublinha Rita Ferro Rodrigues, a fundadora do coletivo feminista Capazes, a lembrar que o discurso da juíza foi igualmente condenado pela UMAR (União de Mulheres – Alternativa e Resposta) e pela APMJ ( Associação Portuguesa de Mulheres Juristas).
Foi na passada sexta-feira que, durante a audiência inicial do processo de violência doméstica movido a Manuel Maria Carrilho, ex-marido de Bárbara Guimarães, a juíza Joana Ferrer Antunes teceu uma série de considerandos que deixaram a plateia estupefacta. Primeiro, para questionar “Mas não foi ao hospital? Porquê? Vou dizer-lhe uma coisa: é a primeira vez que há perícias feitas a fotografias. E digo-lhe: vale zero. Vá, descreva-me mais situações”. Ou mesmo para lhe apontar o dedo: “Com tanta divulgação, tanto apoio que se criou para a violência doméstica? Tenha paciência, esse argumento é fraquinho.” E ainda: Ó Bárbara, causa-me nervoso ver mulheres informadas a reagirem assim. Se tinha fundamento, devia ter feito queixa.”
“O que fizemos”, acrescenta a apresentadora da SIC, “foi publicar uma carta aberta tanto ao Conselho Superior de Magistratura (CSM) como ao Centro de Estudos Judiciários, e também remetê-las como cartas registadas, a pedir a intervenção do CSM. Mas queremos sobretudo que o CEJ compreenda a necessidade histórica de a nossa magistratura ter formação específica para lidar com as vítimas de violência doméstica.”