Quinze por cento da população mundial em idade reprodutiva é infértil. Uma tendência do mundo ocidental que ganha terreno ao mesmo tempo que os espermatozoides perdem qualidade. Estas células sexuais estão envolvidas em 50% dos casos de esterilidade conjugal e em 30% são o único responsável.
O primeiro estudo comparativo feito em várias clínicas de reprodução assistida espanholas, ao longo de oito anos, concluiu que a qualidade do sémen decresceu 2% ao ano. A culpa, presume-se, é dos disruptores endócrinos, substâncias químicas que alteram o funcionamento do sistema hormonal, presentes no ambiente em que vivemos, como plásticos, tintas, pesticidas, herbicidas ou combustível queimado. Desengane-se quem pensa que a solução passa deixar de usar boxers justos. “Por mais que se imponham sacrifícios, como alterar hábitos alimentares, por exemplo, as mudanças referentes aos disruptores endócrinos são extremamente difíceis a nível individual. Afastar esses químicos são medidas políticas e altamente vinculadas à macro-economia”, refere Sérgio Reis Soares, diretor da IVI Lisboa que pertence à mesma rede da clínica de Madrid, responsável pelo estudo.
Não são apenas fatores externos ao homem que o prejudicam. Ao ingerir grandes quantidades de gorduras saturadas a concentração espérmica cai 28 por cento, enquanto que quem fuma marijuana, combinada com bebidas alcoólicas, reduz para metade a qualidade do sémen. A produção de espermatozoides depende totalmente das nossas hormonas. Mas para o ginecologista não são apenas os homens a sofrerem. “Existem razões para acreditarmos que estas substâncias [disruptores endócrinos] também afetam os óvulos.”
Nos últimos 45 anos houve uma correção do critério, por parte da Organização Mundial de Saúde, para definir os níveis mínimos de fertilidade. “Com o aumento dos estudos, das suas zonas geográficas e a ampliação das amostras, o valor foi sendo afinado”, explica o ginecologista Sérgio Reis Soares. Se em 1970 eram necessários 100 milhões de espermatozoides por mililitro para se ser considerado fértil, em 1999 a fasquia baixou para 20 milhões por mililitro de sémen. E desde há cinco anos basta ter 15 milhões por mililitro para ser fértil.