Há algumas (poucas) novidades, muitos membros do Governo e até transferências de mercado – com saltos do poder local para a Assembleia da República – nas listas que o PS tem vindo a apresentar para as eleições de 6 de outubro.
No dia 23 de julho, o partido conclui de vez o dossier dos candidatos às legislativas com a votação global, em Comissão Nacional, das centenas de nomes que leva a votos. Os nomes foram sendo divulgados a conta gotas, na última semana, à medida que cada uma das Comissões Políticas Federativas se sentava para votar as indicações do secretário-geral e das estruturas locais.
Na esmagadora maioria dos casos, o processo foi pacífico. Mas há um ou outro caso onde a direção nacional teve de puxar dos galões estatutários para travar tentativas de insurreição contra os nomes apontados pelo secretário-geral do PS.
Em poucas linhas, aqui estão os nomes que o PS vai colocar nas listas de candidatos às próximas legislativas. Nota de destaque: o peso significativo que os membros do Governo representam nas listas às legislativas.
António Costa | Lisboa
13.166 votos: foi essa a diferença entre António Costa e Pedro Passos Coelho, nas legislativas de 2015. No final, 18 deputados eleitos por cada um dos partidos. Entretanto, tudo mudou, do lado do PSD. O líder do partido é outro e, desta vez, Costa nem sequer vai protagonizar um frente a frente com o seu adversário direto – Rui Rio concorre pelas listas do Porto e nem sequer será cabeça de lista. Depois de perder as últimas legislativas para o PSD/CDS, o PS venceu as autárquicas de 2017 e as europeias de maio deste ano. Faltam as legislativas, o derradeiro teste eleitoral. Na lista, além de António Costa estarão os nomes de Mário Centeno (ministro das Finanças), Eduardo Ferro Rodrigues (presidente da Assembleia da República), Edite Estrela (deputada), Mariana Vieira da Silva (ministra da Presidência e da Modernização Administrativa), João Gomes Cravinho (ministro da Defesa), entre outros membros do Governo.
Alexandre Quintanilha | Porto
Foi uma novidade em 2015, quando apareceu na cena política como um dos rostos da quota de independentes que o secretário-geral chamou para a primeira linha das legislativas. Discutiu-se a possibilidade de, agora, o PS lançar outro nome pelo Porto, mas António Costa voltou a optar por pelo professor universitário jubilado, doutorado em Física. Presidiu à comissão de Educação e Ciência nos últimos quatro anos. A fasquia eleitoral está nos 32,72% e 314 mil votos que conquistou na sua estreia na política, com 14 deputados eleitos pelo círculo do Porto.
Augusto Santos Silva | Círculo Fora da Europa
O PS não elege pelo círculo fora da Europa há 20 anos. Mas isso não impediu António Costa de lançar o seu ministro da Diplomacia como cabeça de lista. Se a experiência correr bem e Augusto Santos Silva conseguir a eleição que escapou aos socialistas nas últimas quatro eleições, isso significa um ponto para Costa. Se correr mal e Santos Silva falhar a eleição, nada impede que o ministro dos Negócios Estrangeiros – um peso pesado no PS e um dos homens de confiança do líder do partido – seja novamente chamado para funções num futuro executivo. Aliás, foi precisamente isso que aconteceu em 2015.
Pedro Nuno Santos | Aveiro
Começou a legislatura como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e foi nesse papel que se assumiu como uma peça fundamental na harmonia da “geringonça”. Pedro Nuno Santos foi responsável por estabelecer pontes com os parceiros parlamentares do PS e tem no currículo a aprovação, pelo Bloco de Esquerda, pelo PCP e pelos Verdes, dos quatro orçamentos de Mário Centeno. Em outubro, por entre saídas do Governo e a entrada de novas caras, Pedro Nuno Santos foi promovido a ministro e migrou para o Ministério das Infraestruturas e Habitação, herdando a pasta (entretanto reforçada) de Pedro Marques (que saiu para Bruxelas). O cabeça de lista por Aveiro, um nome frequentemente apontado como candidato à liderança do PS num momento pós-António Costa, terá como um dos objetivos de outubro subir a votação de 2015. Nessas eleições, o PS não foi além do segundo lugar, com um resultado de 27,91% e menos de 103 mil votos, que correspondem a cinco deputados eleitos.
Ana Catarina Mendes | Setúbal
É o braço-direito de António Costa na gestão do máquina socialista. Com a chegada ao Governo, o secretário-geral do PS confiou-lhe as chaves do partido e as legislativas de outubro são apenas a mais recente missão interna de Ana Catarina Mendes (ACM). O seu nome na lista de Setúbal é mais uma reedição das escolhas de 2015, neste caso com provas dadas: há quatro anos, ACM arrancou uma vitória para o PS no distrito, com 34,31% dos votos, mais de 145 mil votos e sete deputados eleitos à Assembleia da República. Poucas são as federações que podem dizer o mesmo.
Sónia Fertuzinhos | Braga
Onde em 2015 liderou um (então futuro e agora ex) ministro, agora surge uma deputada. Sai Manuel Caldeira Cabral – que já tinha deixado o Governo em outubro, na última grande remodelação – e entre Sónia Fertuzinhos. Natural de Braga, foi sempre eleita pelo círculo em cada um das últimas sete eleições. A relação com a região norte valeu-lhe, de resto, uma polémica na atual legislatura. Apesar de viver há dez anos em Lisboa, a deputada indicou como local de residência, no Parlamento, para a atribuição de subsídio de deslocação, uma morada na sua cidade de origem, Guimarães. O PS ficou em atrás da coligação Portugal à Frente em 2015, com um resultado de 30,87%, 146.412 votos e sete lugares no Parlamento (menos três que PSD e CDS).
Jorge Gomes | Bragança
Já há quatro anos encabeçou a lista por Bragança. É reconduzido num momento em que desempenha as funções de deputado à Assembleia da República, mas foi como secretário de Estado da Administração Interna que Jorge Gomes esteve debaixo dos holofotes. Em 2017, ficou gravado na memória o longo abraço com que recebeu o Presidente da República, na chegada de Marcelo ao cenário da tragédia em Pedrógão Grande. Esteve sempre no terreno, das primeiras à última hora. Foi ele o portador das piores notícias e isso valeu-lhe o elogio de vários colegas de Governo e de partido. Mas, se antes dos incêndios eram os choques com os bombeiros a trazer o seu nome para o primeiro plano, depois do drama foi a atuação do corpo que tutelava naqueles dias – a Proteção Civil – a ser posta em causa. O relatório da Comissão Técnica Independente sobre os incêndios apontou o dedo ao poder político, por não dar resposta ao pedido de reforço de meios pela Autoridade Nacional de Proteção Civil, e o ex-secretário de Estado reagiu: havia “dados falsos” naquelas páginas. António Costa reafirma a confiança política no empresário e gestor, que ficou em segundo lugar em 2015, com 34,06% dos votos (23.718 boletins), e elegeu um só deputado.
Raúl Castro | Leiria
Ao fim de dez anos nas funções, e impossibilitado de se recandidatar a um quarto mandato, Raúl Castro deixa a Câmara Municipal de Leiria e ruma a Lisboa para ocupar um dos lugares no Parlamento que o PS deverá eleger pelo distrito – foram três, nas últimas eleições. O autarca (que já tinha presidido à câmara da Batalha durante oito anos) licenciou-se em Ciência Política e fez carreira na Direção Geral dos Impostos, antes de chegar ao poder local. Sucede ao presidente da feredação de Leiria do PS, António Sales, como primeiro nome pelo distrito, que há quatro anos ficou em segundo lugar, atrás da coligação PSD/CDS, com 24,82% (59 mil votos) e três lugares conquistados na Assembleia da República.
Jamila Madeira | Faro
Vice-presidente da bancada parlamentar, apesar de suplente na Comissão de Saúde, recebei com a missão de liderar as negociações – ora à esquerda ora, de forma efémera, à direita – para a aprovação da Lei de Bases da Saúde, em nome do PS. Quando tudo parecia perdido, os parceiros da “geringonça” anunciaram fumo branco e o projeto passou com uma maioria de votos de deputados do PS, Bloco, PCP e PEV. Jamila Madeira, mestre em Finanças, repete o círculo eleitoral pelo qual foi eleita em todas as legislaturas desde outubro de 1999 (com exceção para a maioria absoluta de José Sócrates, em que não participou), mas, ao mesmo tempo, estreia-se como cabeça de lista por Faro. A fasquia está nos 32,77% e quatro lugares conquistados pelo círculo, há quatro anos.
Luís Capoulas Santos | Évora
Um veterano parlamentar, onde chegou pela primeira vez em 1991, eleito por… Évora. É um habitué no círculo. Fora os 10 anos que esteve em Bruxelas, Capoulas Santos foi sempre eleito por aquele distrito alentejano. Nas legislativas de 2015, o PS venceu em Évora com 37,47% dos votos mas elegeu um deputado, tantos quanto o PSD e a CDU.
Ana Mendes Godinho | Guarda
Parte para as eleições como cabeça de lista e com uma polémica que já valeu a intervenção da direção nacional do PS. A secretária de Estado do Turismo era a escolhade Pedro Fonseca, mas o órgão local do PS trocou as voltas ao líder da federação socialista da Guarda e chumbou a lista – o que levou à demissão de Fonseca. Mas a escolha dos primeiros nomes de cada lista cabem ao secretário-geral, e do Largo do Rato já saiu a mensagem de que a decisão vai ser avocada e reiterada em reunião da direção do partido. Licenciado em Direito, Ana Mendes Godinho é, atualmente, secretária de Estado do Turismo. Sucede a António José Santinho Pacheco naquele lugar, sabendo que, em 2015, o PS não foi além do segundo lugar nas eleições, conquistando 33,78% dos votos (28.868) e dois lugares no Parlamento.
Alexandra Leitão | Santarém
Da mesma forma que não deixa cair o seu ministro da Educação, António Costa também não abdica de um outro elemento fundamental na equipa de Tiago Brandão Rodrigues: a secretária de Estado da Educação, Alexandra Leitão, é a escolha do líder socialista para Santarém. É uma mudança relevante no distrito, depois de o peso pesado José António Vieira da Silva (ministro da Solidariedade e da Segurança Social) ter liderado a lista pelo distrito nas últimas eleições. Doutorada em Direito, professora universitária e com experiência nos círculos de Governo antes da atual legislatura, Alexandra Leitão concorre para bater a marca dos 32,91% (e quase 75 mil votos) de 2015, com três deputados eleitos.
Pedro do Carmo | Beja
Onde há renovação, há também repetição. Aos 48 anos, o ex-presidente da Câmara de Ourique e atual presidente da Federação do Baixo Alentejo do Partido Socialista volta a ser cabeça de lista por Beja. Conseguiu um dos três lugares que o distrito coloca no Parlamento e 37,29% dos votos.
Isabel Rodrigues | Açores
A ex-secretária regional é alguém com “experiência e capital político”, nas palavras do líder do PS nos Açores, Vasco Cordeiro. Onde antes se lia Carlos César, agora vai ler-se Isabel Rodrigues. O atual líder da bancada do PS, e presidente do partido, afasta-se da cena parlamentar e a escolha da região autónoma recai, assim, sobre a até agora presidente do Comissariado dos Açores para a Infância. Numa região com forte influência socialista, o partido obteve, nas legislativas de 2015, 40,37% e 37.869 votos, com três deputados eleitos para Lisboa – foi, aliás, um dos poucos círculos em que os socialistas conseguiram bater a coligação Portugal à Frente.
Tiago Brandão Rodrigues | Viana do Castelo
O braço de ferro entre professores e Governo deixou o ministro da Educação sob permanente pressão. Os primeiros exigem a contagem (e reposição) integral dos nove anos, quatro meses e dois dias em que as suas carreiras estiveram congeladas; os segundos justificam a recusa com o impacto orçamental que essa decisão teria e não vão além de uma contagem de dois anos, nove meses e 18 dias. Destas posições, ninguém dá sinais de querer sair. Nas últimas legislativas, o investigador, natural de Paredes de Coura, doutorado em Bioquímica pela Universidade de Coimbra, ajudou a eleger dois deputados. Obteve 29,82% dos votos, com 38.309 boletins entregues ao PS.
João Azevedo | Viseu
Outro autarca que troca o poder local por um lugar na Assembleia da República. Já tinha sido chamado por António Costa para dirigir a campanha das últimas europeias e, agora, o secretário-geral indicou o presidente da Câmara de Mangualde para ocupar o lugar que em 2015 coube a Maria Manuel Leitão Marques – ele que estava no seu último mandato que a lei lhe permite cumprir. Marca de referência: o segundo lugar, com 29,65% e 56.543 votos, que se traduziram em três deputados eleitos