Feliciano Barreiras Duarte, o primeiro secretário-geral do PSD na era Rui Rio, está novamente na calha para ser deputado. Apesar de o atual mandato ter ficado marcado por três casos que vieram a ditar a demissão das funções partidárias, a concelhia “laranja” do Bombarral propôs, por unanimidade, o antigo secretário de Estado para candidato pelo círculo eleitoral de Leiria.
O líder concelhio confirma à VISÃO o desfecho da votação de sexta-feira, 21, e procura desdramatizar a escolha. “Ele não cometeu nenhum crime. A [direção] nacional definiu requisitos [para os candidatos] e ele cumpre esses requisitos”, diz Nuno Mota, referindo-se a Barreiras Duarte como “a pessoa com o perfil indicado, na opinião da concelhia do Bombarral, para ser candidato”.
Para o presidente daquela estrutura local, tem havido um “linchamento político” a Barreiras Duarte, que, acrescenta, tem trabalho “meritório” para apresentar, com resultados tanto para o concelho do Bombarral como para o distrito de Leiria.
Por isso, Nuno Mota menoriza as polémicas sobre o currículo forjado – Barreiras Duarte referia ter sido “visiting scholar” numa universidade dos EUA -, sobre a indicação de uma morada incorreta (aumentando indevidamente as ajudas de custo que recebia do Parlamento) e ainda acerca de uma presença-fantasma na votação do Orçamento do Estado de 2019. “Alguém o quis tramar”, resume o dirigente local, que remete os juízos políticos e morais para as instâncias superiores. “Não me compete fazer essa avaliação”, atira.
Esta quarta-feira, 26, à noite, haverá uma reunião alargada da Comissão Política Distrital do PSD/Leiria para avaliar as indicações das 16 secções do distrito. O encontro servirá para analisar os nomes propostos pelas concelhias – dos mais pacíficos aos mais controversos, como o de Barreiras Duarte.
Em declarações à VISÃO, o presidente da distrital social-democrata mostra-se cauteloso. “Não temos nenhum veto a nenhum nome que nos chegue das concelhias. Analisaremos as propostas e iremos refletir sobre isso”, nota Rui Rocha, contornando as questões sobre a alegada toxicidade eleitoral de Barreiras Duarte, que várias fontes locais não se cansam de realçar.
Não havendo “chumbo” da distrital, a permanência do antigo secretário de Estado Adjunto de Miguel Relvas no Parlamento fica nas mãos de Rui Rio. E entre a direção o assunto não é consensual. Há quem defenda que Feliciano pode continuar, mas há quem considere que as listas para as legislativas implicarão demasiadas dores de cabeça para o presidente do partido – e que, portanto, esta seria dispensável.
“É mais um caso bicudo”, ouviu a VISÃO de um alto dirigente “laranja”, que reconhece o dano que uma só personalidade pode vir a causar, embora outra fonte muito bem colocada saliente que o tempo para vetos ou aprovações ainda não chegou. Só a 8 de julho, quando a Comissão Política Nacional iniciar as negociações com as distritais, esse cenário poderá vir a colocar-se. Apenas Rio, conhecido por segurar os seus até ao limite, poderá decidir se Barreiras Duarte vai ou não a jogo.
Contactado pela VISÃO, Feliciano recusa fazer comentários: “Prometi a mim mesmo e a pessoas do meu distrito que falaram comigo que não me pronunciaria para não perturbar este processo.”
Barreiras Duarte foi eleito cinco vezes para a Assembleia da República. A primeira foi em 1999 e a última em 2015, quando o PSD foi a votos coligado com o CDS. Nessa ocasião, o ex-chefe de gabinete de Pedro Passos Coelho foi segundo da lista de Leiria, logo atrás de Teresa Morais (que já anunciou o “adeus” ao hemiciclo).
Refira-se ainda que o episódio em torno do currículo do social-democrata está a ser investigado pelo Ministério Público e que Barreiras Duarte está igualmente na mira da justiça no processo relativo às moradas indicadas pelos deputados aos serviços do Parlamento.