Defendem um “amplo e participado processo de debate” no PS para a escolha dos candidatos à Assembleia da República, justificam-se com o “enorme descrédito” da classe política e lançam o apelo direto ao secretário-geral do partido para que dê cobertura à realização de primárias para a escolha dos candidatos às legislativas de outubro.
Esta quarta-feira, 26, parte dos 117 militantes socialistas que subscrevem a carta aberta “Primárias, já”, dirigida a António Costa, reúnem-se ao final da tarde no Largo do Chiado, em Lisboa. Na véspera da reunião da Comissão Nacional em que se vão discutir e votar os critérios e a metodologia para a elaboração das listas de candidatos do PS às legislativas, essa foi a forma que o grupo encontrou para defender a reedição do modelo que António Costa lançou em 2014 e com o qual conseguiu mesmo destronar António José Seguro da liderança do partido.
Entre os subscritores da carta aberta está Daniel Adrião, líder do grupo Reinventar Portugal, uma pequena fação na Comissão Nacional do PS. Garantem que estão prontos para ir para o terreno “com o objetivo de darem a conhecer as suas ideias e promoverem as respetivas candidaturas”. E mais de três dezenas desses militantes apresentam já a sua carta de intenções.
No final da semana passada, já tinha ficado claro que a proposta de realização de primárias no PS vai mesmo a votos na Comissão Nacional desta quinta-feira, 27. Daniel Adrião escreveu ao presidente do partido, pedindo a Carlos César que a proposta constasse da ordem de trabalhos do encontro.
César respondeu com os estatutos. “A Comissão Nacional, por sua iniciativa ou sob proposta do Secretariado Nacional, pode deliberar sobre a convocatória de eleições primárias fechadas ou abertas para a escolha dos candidatos a titulares de cargos políticos” de âmbito local, nacional ou europeu. Basta, portanto, que um dos membros da Comissão Nacional o proponha para que o assunto seja votado em plenário.
Os subscritores da carta aberta interpelam diretamente Costa, pedindo-lhe que, “em coerência com o compromisso” que assumiu nas primárias de setembro de 2014, “desencadeie o mais rapidamente possível e em tempo útil os procedimentos necessários” para a convocação de primárias com vista às eleições de outubro.
“Num momento em que a nossa classe política padece de um enorme descrédito e os cidadãos se afastam cada vez mais da atividade político-partidária, fragilizando com isso as instituições democráticas, urge devolver a palavra àqueles a quem as decisões se destinam e pôr um ponto final nas escolhas feitas em circuito fechado e entre núcleos restritos de dirigentes”, sublinham os mais de 100 subscritores do documento.
Já em março, como a VISÃO escreveu, Daniel Adrião tinha tentado que o modelo de primárias estivesse na base da escolha dos candidatos do PS ao Parlamento Europeu. Na altura, a proposta esbarrou no calendário. “Face à proximidade do ato eleitoral para o Parlamento Europeu não considero oportuna a inserção do ponto que sugere, nem na última Comissão Política surgiu qualquer proposta concreta para esse efeito”, justificou-se Carlos César. Desta vez, o tema vai mesmo a discussão.