Manuel Pinho viveu durante anos no rés-do-chão do número 68 da Rua Saraiva de Carvalho, num duplex com cinco quartos, cinco lugares de estacionamento, pátio inglês, jardim e piscina. Tinha comprado todo o prédio, em 2004, ao Banco Espírito Santo, por menos de 800 mil euros. Deu polémica, porque era a antiga casa do escritor Almeida Garrett, mas nada o impediu de demolir o edifício e de erguer um novo com quatro apartamentos luxuosos: dois T4, um T2 e o seu duplex.
A VISÃO consultou vários documentos e descobriu que Manuel Pinho começou a fazer negócio com as casas em 2009. A 24 de junho desse ano, vendeu o 4º andar do prédio (o T2) a Manuel Sebastião, seu amigo e então presidente da Autoridade da Concorrência, por meio milhão de euros. Mais tarde, uma semana depois de se ter demitido de ministro da Economia, Manuel Pinho e a mulher venderam os apartamentos T4, do 2º e 3º andares do prédio. O comprador foi o Fundo de Gestão de Património Imobiliário do Banco Espírito Santo – o FUNGEPI/BES – e o negócio rendeu ao casal 1,5 milhões de euros. Cada um destes apartamentos estava avaliado pelas Finanças em cerca de 300 mil euros.
Dois anos depois, já em 2011, este fundo imobiliário do BES voltou a vender as casas, perdendo dinheiro. O 3º andar, por exemplo, foi vendido por 577 mil euros a um diretor da consultora Accenture.
Entretanto, também o rés-do-chão passou para outro proprietário. Tal como a VISÃO adiantou na passada edição, Manuel Pinho vendeu esta casa nos últimos meses, com uma enorme discrição. Agora, esta semana, na edição que amanhã chega às bancas, a VISÃO revela todos os pormenores desse e de outros negócio imobiliários e conta como o ex-ministro, constituído arguido por suspeitas de corrupção no chamado “Caso EDP”, se tem desfeito de praticamente todos os bens em Portugal, levando a Justiça a temer que esteja em curso uma estratégia de ocultação de património para evitar arrestos e apreensões. A Pinho resta apenas um pequeno T1 no Porto e até a mulher pôs à venda parte da sua coleção de fotografia contemporânea.
A VISÃO revela-lhe ainda o património e os rendimentos declarados e não declarados pelo antigo governante, que é suspeito de ter recebido, através de quatro offshores, pelo menos 3,57 milhões de euros da empresa escondida do Grupo Espírito Santo, uma parte desse dinheiro enquanto era ministro.