As motas ocuparam sempre um lugar importante na vida de João Gonçalves Pereira. “Motard” nos tempos livres, foi a paixão que o levou a aceitar o primeiro emprego: distribuidor de pizzas. Com apenas 17 anos, JP, como é conhecido entre os seus amigos, quis ganhar independência financeira e começou a trabalhar na Telepizza. Não tinha necessidade de o fazer, até porque teve “a sorte de nascer numa família de classe média”, como nos conta. Mas esta era uma decisão irrevogável. Queria começar a ganhar o seu próprio dinheiro. Os pais rapidamente perceberam a sua determinação e não o contrariaram. Impuseram apenas uma condição: não deixar de estudar.
Trabalhador-estudante desde a faculdade, acabaria por se licenciar em Ciência Política, trabalhando de dia e frequentando as aulas à noite. O trabalho como distribuidor de pizzas durou seis meses. O bichinho da motofilia, esse, continua a existir. Assim como a carreira política que encetou na juventude.
Aos 20 anos, no ano de 1997, João Gonçalves Pereira assumiu pela primeira vez um cargo político no Executivo da Junta de Freguesia de São João de Brito. Começava assim o seu percurso na vida autárquica. Hoje, para além de vereador da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e presidente da Distrital de Lisboa do CDS-PP, é o nº 2 da lista do partido na corrida à Câmara da capital. Foi um trajeto maioritariamente autárquico, sempre ligado ao partido e desde o início vinculado a Lisboa.
Um otimista excessivo
Como muitos jovens que integram as juventudes partidárias, João Gonçalves Pereira começou a olhar para certos membros do partido como referências. Um deles, confessa, foi Telmo Correia. Na época, era dirigente do CDS. Ambos começaram por cruzar-se em campanhas eleitorais. Anos mais tarde, JP foi o seu nº 2 na Distrital de Lisboa durante três mandatos. Telmo Correia conhece bem o vereador da CML e define-o, sem rodeios, como “um político mais pragmático e menos ideológico”. Salientando sempre a sua “capacidade de organização”, fala do “amigo JP” como uma pessoa aberta “ao diálogo, disponível para negociar e muito trabalhadora”. “Um político mais executivo do que parlamentar”, resume. Mas estas características levam por vezes João Gonçalves Pereira a ser “demasiado voluntarista” e isso, no entender do Telmo Correia, traz, por vezes, um “excesso de otimismo.”
Essa vontade de chegar a bom porto independentemente de as marés estarem mais vivas é reconhecida pelo próprio João Gonçalves Pereira. Diz que tenta sempre estar “disponível para ouvir”. Afirma ainda que não tem “qualquer problema em votar ao lado do PCP se a proposta for boa”, revelando o pragmatismo que Telmo Correia identificara e colocando o idealismo na algibeira.
Ao longo do último mandato destacou-se na oposição na CML. Muitos consideram que foi por vezes uma voz solitária na crítica ao Executivo autárquico. Outros discordam. Como Mauro Xavier, ex-presidente da Distrital de Lisboa do PSD. O social-democrata considera que a sensação de oposição solitária pode advir do facto de “haver uma maior necessidade de afirmação” no CDS-PP. Existe, talvez, “uma sede de protagonismo individual maior” na forma de fazer oposição, e Mauro Xavier considera que foi o PSD quem, ao longo dos últimos mandatos, fez uma “oposição séria e responsável”, com “visão de longo prazo”. Não deixa, no entanto, de tecer elogios ao nº 2 de Cristas, com quem trabalhou de perto na candidatura de Fernando Seara à CML há quatro anos, assinalando que se trata “de um quadro válido da nova geração do CDS.”
No seu trajeto político, também existiram divergências dentro do partido. João Almeida, deputado pelo CDS-PP, foi um dos adversários que João Gonçalves Pereira enfrentou internamente. Ambos concorreram à liderança da então Juventude Centrista. Uma corrida que João Almeida acabou por vencer. Mas “esse não foi um confronto muito vincado”, explica o deputado centrista, que considera que hoje JP “é um dirigente empenhado” e com “capacidade de marcar a agenda”.
Para lá da Praça do Município
Boa parte da ação de João Gonçalves Pereira passa por projetos que vão diretamente ao terreno. Exemplo disso é o Comissariado contra o desperdício alimentar que concebeu e dirigiu ao longo dos últimos três anos.
Outra área pela qual sempre quis batalhar foi a do desporto. E também conseguiu aliá-la “ao serviço público à capital.” Criou a Fundação Carlos Lopes e instalou-a em Lisboa. A ideia surgiu porque João Gonçalves Pereira queria pôr em marcha um projeto que fosse capaz de “reconhecer o tanto que Carlos Lopes deu ao País.” Durante o processo de criação, o agora número dois de Cristas “mostrou ser uma pessoa muito disponível, com ideias muito boas”, revela Carlos Lopes. Uma das características que o ex-atleta destaca é o facto de “nunca ter sentido que estava a trabalhar com um político.” O que acabou por ser positivo, já que para Carlos Lopes a política “vale o que vale.” O importante na época era erguer um projeto e João Gonçalves Pereira “foi sempre capaz de criar soluções” sem “nunca desistir”. A fundação viria a acabar poucos anos depois por falta de financiamento. Mas a relação que estabeleceu com Carlos Lopes não foi abalada.
Ao longo da carreira de João Gonçalves Pereira foram vários os desafios. Agora, vai concorrer com Assunção Cristas à CML. Afirma que ainda é cedo para falar de sondagens. Prefere olhar para “a reação da sociedade” às ações que o CDS já promove. É precisamente esse contacto que lhe traz confiança para o futuro: “Acho que os resultados de 1 de outubro vão surpreender muita gente.” JP quer que o futuro continue a passar pela CML. Até lá, a viagem ainda é longa. E é feita sobre duas rodas, claro.
(artigo publicado na VISÃO 1275, de 9 de agosto)