Parque Escolar pagou 148 milhões de euros a empresas ligadas a Santos Silva
28.07.2017 às 15h46
NUNO FOX
Os investigadores da Operação Marquês acreditam que Sócrates não terá recebido dinheiro apenas do Grupo Espírito Santo. Há uns meses pediram todos os dados sobre o concurso do TGV e sobre as obras da Parque Escolar
Depois de conseguir reconstituir que parte dos milhões que chegaram às contas na Suíça de Carlos Santos Silva (o empresário suspeito de ser o testa de ferro de José Sócrates) tiveram origem em contas do Grupo Espírito Santo, os investigadores da Operação Marquês voltaram às primeiras linhas de investigação e às suspeitas que levaram à detenção de José Sócrates, em novembro de 2014. Já no início deste ano, foram pedidas informações sobre o concurso do projeto de alta velocidade ferroviária (TGV) e sobre o consórcio Elos (liderado pela Brisa e pela Soares da Costa), que venceu a concessão. E também sobre as empreitadas encomendadas pela Parque Escolar, o programa de remodelação das escolas lançado em 2007 pelo governo de José Sócrates.
Em fevereiro deste ano, a equipa liderada pelo procurador Rosário Teixeira pediu elementos ao processo nascido em 2012 para investigar a Parque Escolar. A Polícia Judiciária enviou um quadro com a listagem de todos os contratos celebrados entre a Parque Escolar e as empresas a que Carlos Santos Silva estava ligado como o grupo Lena, a construtora Abrantina, a EFS, a Prospectiva e a Optimyzer.
Da informação contratual que tem por base as listagens fornecidas pela Parque Escolar, e que a VISÃO analisou, resulta que as empresas em que Carlos Santos Silva tinha interesses foram premiadas com 25 contratos de obras em escolas, através de concursos ajustes diretos e ajustes diretos simplificados. No total, o leque de empresas recebeu 148 milhões de euros.
À construtora Abrantina (comprada pelo grupo Lena em 2007) foram adjudicadas oito empreitadas em escolas de Lisboa, Guarda, Marinha Grande e Vila Viçosa, no total de 91,2 milhões de euros. A empresa Lena Engenharia e Construções liderou apenas a execução de obras de modernização de escolas com ensino secundário: apesar de ser só um contrato rendeu 31,1 milhões de euros. A MRG – Engenharia e Construção venceu também apenas um contrato, de 16,3 milhões de euros. O mesmo aconteceu com a EFS – Engenharia, Fiscalização e Serviços, só que por um montante muito mais reduzido: 192,7 mil euros.
A Optimyzer-otimização e revenda de soluções de engenharia – foi responsável por seis obras, no total de 181, 7 mil euros. Já a Prospectiva – projetos, serviços e estudos – ganhou oito concursos e ajustes diretos que, somados, resultaram em perto de 8,7 milhões de euros.
O Ministério Público suspeita que José Sócrates terá recebido milhões como contrapartida de decisões que, enquanto governante, terá tomado a favor de várias empresas.
A Parque Escolar foi criada para modernizar 332 escolas secundárias e terá custado, segundo um relatório do Tribunal de Contas, mais de 3,2 mil milhões de euros. Essa auditoria criticava o governo de Sócrates por nunca se terem estabelecido tectos máximos para o investimento e frisava que o parque escolar iria continuar envelhecido já que só se iria modernizar 70% do total das escolas secundárias e menos de metade das escolas no geral.