Gianni Pittella, o italiano de 58 anos que lidera o grupo dos socialistas no Parlamento Europeu, faz rasgados elogios a António Costa e à solução de governo existente em Portugal, mas avisa: “não é um exemplo que se possa exportar para outros países europeus”. Em Portugal, para a conferência “A Europa tem futuro?”, promovida pelo PS, Pittella falou à VISÃO do futuro da Europa e exigiu que o próximo presidente do Conselho Europeu seja um socialista.
Está preocupado com o futuro da Europa?
Estou preocupado, porque na história da União Europeia nunca tivemos tantos desafios como neste ano. A União Europeia deve voltar à sua capacidade de união para responder concretamente a estes problemas que afectam a nossa sociedade.
Para essa união, o fim da grande coligação no Parlamento Europeu não é um problema?
Não. É uma resposta a esta necessidade. Socialistas, conservadores e liberais têm uma visão europeísta e muito bem. Mas depois têm diferentes ideias sobre as questões económicas e sociais. Enquanto Schäuble defende a austeridade, a corda ao pescoço dos países do sul da Europa, eu defendo mais investimento, mais trabalho, mais crescimento económico, mais trabalho jovem. Como podemos conviver e colaborar? Temos que ter alternativa. Pensamos o mesmo sobre a Europa, mas estamos distantes e temos visões distintas sobre a questão do crescimento económico, do trabalho, da questão social. O que vem primeiro: as pessoas ou os bancos? Para os socialistas vêm primeiro as pessoas.
É uma diferença socialistas e conservadores ou entre o Norte da Europa e o Sul?
Não é uma diferença geográfica, é uma diferença política e ideológica. Os conservadores são liberais, pensam que esta questão deve resolver-se no mercado, com a força do mercado, o capitalismo. Nós entendemos que esta questão deve ser resolvida pela União Europeia, como uma entidade pública que cria riqueza e redistribui riqueza na consideração que temos pessoas muito ricas e outras muito pobres. E isto não é justo. É preciso criar condições de equilíbrio e equidade.
A solução portuguesa de Governo de António Costa, com apoio de comunistas e partidos da esquerda, é um exemplo que deve e pode ser repetido noutros países?
Esta experiência é magnífica e fabulosa, mas é sobretudo pelo grande mérito de António Costa. Criou um governo socialista, com maioria ampla contra o radicalismo da direita. É uma experiência de governo que está a dar grande furtos para os cidadãos portugueses, mas não é um exemplo que se possa exportar para outros países europeus. Os sistema eleitorais e políticos não são um cliché único para os 28 países europeus.
Quando tem partidos a apoiar o Governo português que defendem a saída do euro e até têm um discurso anti-europeu, isso não o preocupa?
Não estão no Governo. São um apoio. O programa do Governo de António Costa é um programa europeísta, que não coloca em questão o euro. Está a colocar em ordem as contas públicas. Teve agora um défice público de 2,1% do PIB. António Costa está a reduzir o desemprego e, ao mesmo tempo, a meter na ordem as contas públicas. É um governo positivo para a Europa e um exemplo do como se pode sanar a situação financeira de um país criando crescimento e emprego.
Como avalia a demissão este fim-de-semana de Matteo Renzi da liderança do Partido Democrata em Itália?
Não estou preocupado, mas estou triste. Esta decisão de sair não tem uma razão política séria. Desafia-se um partido quando há um movimento de fundo.
A sua derrota para a presidência para o Parlamento Europeu deixa três instituições nas mãos do PPE (Conselho Europeu, Parlamento Europeu e Comissão Europeia). A Europa precisa de mais socialistas no topo das instituições?
Parece-me evidente. Não se pode ter três presidências, das três maiores instituições quando se tem pouco mais de 20 deputados a mais do que os socialistas. Não é uma questão de lugares, é uma questão de equilíbrio. Espero que o líderes socialistas se batam para obter a presidência do Conselho Europeu.
François Hollande é um bom nome?
É um grande nome, como outros líderes socialistas. Não me interessa o nome, a mim interessa-me que o próximo presidente do Conselho seja um socialista.
Hollande está numa melhor posição ou podemos pensar em Renzi?
Não vou entrar nesse discurso de nomes. Sou líder dos socialistas no Parlamento Europeu, não sou chefe de Governo que decida quem será o próximo.
É provável que Jeroen Dijsselbloem, que preside ao Eurogrupo, deixe de ser ministro das Finanças após as eleições holandesas. A presidência do Eurogrupo pode ter um líder que não seja ministro das Finanças?
Vejamos o que vai acontecer nas eleições holandesas. Não façamos previsões. Mas não excluo a confirmação do atual presidente do Eurogrupo.