As posições conjuntas que dão corpo à geringonça que sustenta no poder o Governo de António Costa têm uma falha. Ou melhor, têm uma omissão propositada. É que na hora de negociarem posições, PCP, BE e PS acertaram por princípio que deixariam de fora aquilo em que divergem. E nesse campo, para além da óbvia Europa, ficou todo o sistema financeiro e tudo o que diz respeito à banca.
Vai daí, quando o tema é o processo da Caixa Geral de Depósitos ou a venda ou não venda do Novo Banco, o Governo fica com um problema. É que não tem do lado dos parceiros parlamentares garantias de qualquer apoio.
Por isso, quando Francisco Louçã vem escrever no Público que é preciso “construir novos acordos nesta área [da banca], a questão coloca-se: haverá hipótese de acrescentar normas às posições conjuntas ou assinar novos papéis?
O PCP responde em modo Álvaro Cunhal: “olhe que não”. Em entrevista à VISÃO, Jorge Cordeiro foi taxativo, quando questionado sobre a hipótese de reforçar as posições conjuntas assinadas por PCP e BE com o PS. “Sempre dissemos ao PS que para nós bastava a palavra. Não precisamos de nenhum papel”. E se no arranque da geringonça, os comunistas acederam a um “entendimento mínimo”, feito por escrito para confortar o Presidente da República Cavaco Silva, isso não voltará a acontecer agora que Costa já é primeiro-ministro.
Para memória futura, o mesmo Jorge Cordeiro deixou os alertas a São Bento sobre as questões da Caixa Geral de Depósitos. É que se o Governo quer recapitalizar o banco público para o fazer “minguar”, despedindo trabalhadores e fechando balcões “não terá” o apoio do PCP, garante o dirigente comunista. “Mais do que um processo de recapitalização é preciso saber qual é o plano de negócios que lhe está associado. Se é para fortalecer a Caixa e afirmar o seu papel é positivo”, diz Jorge Cordeiro, acusando o PSD de querer descrebilizar a Caixa para perseguir o “velho sonho” de a privatizar.
E para divergir, o PCP não precisa de nenhum acordo assinado. “Depende da ação política. Se é positiva contará com o nosso apoio. Se for negativo, não”, garantiu à VISÃO o membro do Comité Central.
Algo que não é surpreendente para o Governo. Pedro Nuno Santos, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, assumiu recentemente à VISÃO que os temas da “banca são desde o início um dos pontos em que temos divergência com os nossos parceiros”. “O PCP e o BE não aceitam a recapitalização de bancos privados, por exemplo, e nós temos uma posição diferente”. Teria o secretário de Estado o Novo Banco em mente?