Com ou sem quotas para mulheres ou outras regras para impôr uma certa paridade, os parlamentos estão a deixar de ser um mundo dominado (exclusivamente) pelo género masculino. A União Interparlamentar refere até que se tem registado um “aumento acentuado” do número de mulheres eleitas deputadas. Se esse movimento é “benéfico para a democracia representativa”, a tendência, como qualquer mudança, também tem provocado alguma resistência. Nos cinco continentes se contam histórias de insultos, comentários sexistas, intimidação, ameaças, violência psicológica, sexual e física.
Para uma deputada proveniente da Europa, ser política e solteira é logo razão para ouvir comentários depreciativos: “Recebi e-mails, por vezes acompanhados de imagens pornográficas, com a mensagem ‘sai da política; em vez disto, casa-te” ou “Estarias melhor num filme porno”. São apenas dois exemplos… da Europa do século XXI.
Mas os níveis de agressão não se ficam por aqui. Cerca de 44% das inquiridas diz já ter recebido “ameaças de morte, de violação, violência física ou de rapto” (das próprias ou dos filhos), refere o relatório. “Mandaram-me informação sobre o meu filho – a sua idade, a escola onde anda, a turma, etc. – ameaçando raptá-lo”, conta uma deputada asiática. Outra, europeia, conta que “uma vez, num período de quatro dias, recebi mais de 500 ameaças de violação no Twitter.”
Um quinto das inquiridas garante ter sido alvo de assédio sexual. Quanto a violência física, é também um quinto o número de deputadas que declara ter sido esbofeteada, empurrada ou presa durante o seu mandato, mas apenas 12,7% referem a ameaça ou o uso, de facto, de arma de fogo, faca ou outro tipo de arma, contra elas.
O estudo questionou 55 deputadas de 39 países distribuídos pelo planeta: 18 de África, 15 da Europa, 10 da região Ásia-Pacífico, oito das Américas e quatro do mundo árabe. A maior parte representa partidos que estão no poder.
Mais de 80% garante ter sido sujeita a atos de violência psicológica; 22% a violência sexual; 25,5% a violência física; 32,7% a violência económica. Entre as inquiridas, 65,5% diz ter sido sujeita, várias vezes, a comentários sexistas humilhantes, no decorrer do seu mandato.