Hello, Twitter! It’s Barack”. Estávamos em junho de 2013 e o Presidente dos Estados Unidos dizia olá à rede social com mais sucesso entre políticos e fazedores de opinião. Quando, na semana passada, as bombas explodiram no aeroporto de Bruxelas, lançando, novamente, o medo na Europa e nos europeus, os líderes mundiais comunicaram rapidamente através de tweets. Passar a mensagem, mostrar solidariedade, comunicar sucessos ou esclarecer mal entendidos. A informação em tempo real não dá tréguas e, por isso, o Governo arrancou com uma nova estratégia de comunicação nas redes sociais. Até junho, primeiro-ministro, gabinetes ministeriais e os próprios ministros e secretários de Estado terão contas oficiais no Twitter. E até dezembro, a presença será estendida ao Facebook. Não importa que João Soares tenha de cancelar a sua conta nesta rede depois de ter aqui defendido publicamente a contratação do filho para a Câmara de Lisboa. Ou que Francisca Van Dunem nunca tenha tido presença nas redes sociais. Durante o ano, todos os ministros e secretários de Estado, sem exceção, terão obrigatoriamente uma conta oficial Twitter e Facebook, com regras transversais a todos (embora possam manter, ao mesmo tempo, as contas pessoais). O relógio já começou a contar e nenhum ministério quer ficar para trás. Maria Manuel Leitão Marques, ministra da Modernização Administrativa, deu o tiro de partida e na quarta-feira surgiu oficialmente a página @modernizacao_pt. O primeiro tweet foi uma mensagem direta da própria ministra a apelar para contributos no Simplex. Esta semana, Justiça e Trabalho seguiram-lhe o exemplo. E foi com espanto que, no ministério de Vieira da Silva, se viu que uma das primeira seguidoras da página era Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda.
As contas têm regras para cumprir e nem António Costa vai escapar à ditadura da comunicação nas redes sociais. O primeiro-ministro – que usará o endereço @antonio_costa – terá que comunicar na primeira pessoa. Talvez não seja de estranhar, por isso, que até junho a rede social que conta com cerca de 1 milhão de contas em Portugal, receba agora um “Hello, Twitter. É o António”. Segundo a informação recolhida pela VISÃO junto de fontes governamentais, o primeiro-ministro vai usar o Twitter para comunicar sobre as suas deslocações ou iniciativas. Também poderá publicar fotografias ou vídeos. Só há uma coisa que os seguidores de António Costa não devem esperar: resposta. As instruções são para rever todas as mensagens que cheguem para o primeiro-ministro e garantir que, salvo em raras exceções, elas não serão alvo de retribuição.
Para potenciar a presença no Twitter foi garantida a colaboração direta e sem custos de técnicos especialistas desta rede em assuntos políticos e governamentais. É que estar presente nas redes sociais tem muitas vantagens, mas também comporta grandes riscos. Felisbela Lopes, professora de Jornalismo na Universidade do Minho lembra que é preciso garantir que “há uma estratégia concertada, se não corre-se o risco de termos ministros de primeira e ministros de segunda”. A especialista em comunicação comenta também à VISÃO que o Governo tem que estar preparado para a exploração que a oposição fará desta presença virtual: “Os dois partidos da direita vão estar atentos a todas as brechas”.
Caberá ao departamento de comunicação do gabinete de António Costa, liderado por Mário São Vicente, antigo diretor de comunicação comercial do Millennium BCP, monitorizar a conta do Governo e do primeiro-ministro e evitar crises. Haverá também ajuda de uma equipa do Centro de Gestão da Rede Informática do Governo (Ceger), responsável pela rede informática que serve o Executivo. Nos ministérios, cada gabinete será responsável pela sua própria conta.
António Costa sabe como ninguém os efeitos nocivos de uma comunicação desajeitada. Ainda terá bem presente casos como o dos cartazes da campanha eleitoral, em imagens esotéricas, que foram alvo de troça, até à exaustão, nas redes sociais. Ou a polémica viral, na origem da hesitação sobre alegados cortes das prestações sociais, no debate das rádios com Passos Coelho.
Embora a estratégia de comunicação que está a ser montada comece pelo Twitter, o Governo não ignora que a realidade portuguesa é um pouco diferente da de outros países. É certo que esta rede social é o palco de excelência para a comunicação política, mas em território português o Facebook continua a ser a plataforma com maior impacto. Foi através dela que Sérgio Sousa Pinto, então secretário nacional do PS, reagindo ao acordo à esquerda, mostrou toda a sua indignação contra a “barafunda suicidária” que ameaçava governar o País. E que, para ele, levaria a “um penoso caos que entregaria Portugal à direita por muitos anos”. Ou que Augusto Santos Silva, agora ministro dos Negócios Estrangeiros, se demitiu com estrondo da TVI em rutura com o diretor Sérgio Figueiredo. A conta foi entretanto encerrada. Mas nem todos os atuais membros do Governo sentiram essa necessidade de eliminar a sua passagem pela rede. Fernando Rocha Andrade também não foi um entusiasta de primeira hora do acordo de esquerda, mas manteve intacta a timeline onde anunciou que seria secretário de Estado dos Assuntos Fiscais com uma imagem da banda desenhada de Astérix, onde se pode ler “abram alas para o coletor de impostos, enviado especial de Júlio César”.
Mas se o Facebook tem uma maior projeção do que o Twitter, então, qual a razão para preferir a segunda? A ideia é que o Facebook não dá tantas garantias de visibilidade e que há uma maior dificuldade em moderar os conteúdos, o que obrigaria a ter gabinetes com uma maior experiência nessa gestão. Mas Felisbela Lopes tem outra explicação: “o Twitter chega aos que fazem opinião, são eles que comandam a opinião publica mediatizada”. A professora fala dos comentadores das televisões, dos fazedores de opinião nos jornais e dos próprios jornalistas. “Há um efeito multiplicador da mensagem”.
A moderação das redes sociais e o acompanhamento dos efeitos que estas novas ferramentas terão na comunicação do Governo vão ser analisados periodicamente. O tema fará parte obrigatória da agenda de Mariana Vieira da Silva, secretária de Estado adjunta do primeiro-ministro, que de 15 em 15 dias reúne com todos os assessores de imprensa do Governo para uma coordenação que se quer sem falhas.