Demolidor, irónico, contundente, Passo Coelho fechou a série de intervenções finais sobre o Orçamento de Estado. A meio do discurso, depois de ter argumentado que o orçamento socialista aumenta a carga fiscal, disse: “A austeridade não é de esquerda nem de direita, é o que sobra quando acaba o dinheiro”.
O ex-primeiro ministro revelou finalmente o que seria o seu orçamento, respondendo da bancada nobre do Parlamento às críticas dos partidos de esquerda em relação à ausência dos sociais-democratas do debate. Disse que seria reformista e gradualista, mais cauteloso na devolução de rendimentos, mais ambicioso na redução da dívida pública, que proporia a realização de uma reforma do sistema contributivo da segurança social. Mas garantiu que o não apresentaria nenhumas propostas na especialidade, porque o orçamento “não tem arranjo possível”.
Acusou ainda a maioria que sustenta o governo de pirómana, ao falar de renegociação da dívida pública, acusando a extrema esquerda de “fanatismo ficcional” em relação ao país e ao mundo.
Mais contida mas igualmente crítica foi a intervenção de Assunção Cristas, candidata a líder do CDS-PP e a deputada a quem coube fechar o debate parlamentar sobre o orçamento de Estado. A ex-ministra da Agricultura considerou que o orçamento traz mais austeridade, tendo exemplificado com o caso de uma família com dois filhos e 1000 euros de rendimento por titular que, segundo garantiu, pagará mais IRS com o orçamento socialista. Considerou-o ainda imprudente (“É simpático, querer devolver tudo a todos…”), de desconfiança, de dúvida (em relação à execução), de deceção (exemplificou com a diminuição do orçamento para a Educação) e de omissão.
“Se alguma coisa correr mal, peço aos quatro pais deste orçamento [PS, BE, PCP e PEV] que assumam as responsabilidades”, concluiu a centrista, que antes havia dito que não era de “rancores” e que o CDS faria as suas propostas.
Quanto aos partidos de esquerda, o tom comum foi de ataque à antiga maioria PSD-CDS. Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, lembrou ainda a necessidade de se formarem os grupos acordados com o PS para estudar a dívida externa, a precariedade, os custos energéticos e as políticas habitacional e de combate à pobreza. E prometeu reivindicar mais no debate da especialidade, repetindo o enfoque de Francisco Lopes, que discursou pelo PCP. O comunista afirmou ainda que votava num orçamento que não era seu mas que tinha os contributos do seu partido.
Na sua breve intervenção (a primeira da ronda de discursos finais), André Silva, do partido Pessoas, Animais e Natureza prometeu ir apresentar várias propostas no debate da especialidade, nomeadamente sobre a recuperação dos rendimentos e na área dos direitos dos animais. O PAN abstém-se na votação do Orçamento.