Os cortes orçamentais nas Nações Unidas fazem com que este ano não estejam disponíveis os campos de férias que costumavam receber cerca de 250 mil crianças – e que custavam à ONU 12 milhões de dólares. Com os cortes, os únicos campos de férias à disposição dos mais novos são aqueles geridos pelo Hamas, que, desde 2007, domina a vida política e cultural em Gaza, esforçando-se para impôr a sua visão radical do islamismo.
Os responsáveis pelos campos do grupo radical islâmico garantem que as crianças passam a maior parte do dia a brincar, embora considerem justo que lhes sejam transmitidos conhecimentos sobre religião e sobre a Palestina.
Emad Abdullah, 42 anos, conta à Associated Press que, nos últimos anos, os seus três filhos frequentaram os campos de férias da ONU, que ofereciam às crianças duas semanas de desporto, teatro e acompanhamento psicológico. Nos campos do Hamas, os rapazes andam a cavalo e jogam futebol. Têm aulas sobre o Islão e são ensinados a lutar contra Israel para libertar a Palestina. As raparigas não entram nos desportos, o que seria considerado impróprio. Mas têm aulas de cozinha e bordados.
Este ano, os filhos de Emad Abdullah ficam em casa. E não são os únicos. Segundo a reportagem da Associated Press, muitos preferem ficar com os filhos em casa do que deixá-los ao cuidado do Hamas. Mas as opções não são muito apelativas e o próprio Abdullah admite que, para o ano, as crianças poderão ir mesmo para os campos de férias.
A maioria das zonas de Gaza não tem parques públicos e os pais não podem pagar transportes para levar os filhos à praia ou a parques infantis privativos. A energia elétrica só funciona durante cinco horas, duas vezes por dia, o que não faz da televisão uma opção. Restam as ruas. A qualquer hora do dia vêem-se crianças de todas as idades, a brincar entre escombros. Os mais velhos olham pelos mais novos, o que quer dizer que, muitas vezes, miúdos de nove ou dez anos (e menos), olham pelos de dois. E menos.