O jornal espanhol El Mundo desconstruiu alguns mitos e verdades sobre o regime de Pyongyang.
Alguns mitos…
O apocalipse nuclear:
As ameaças de um ataque nuclear sobre os Estados Unidos são quase diárias e até já tiveram direito a ser ilustradas com vídeos em que se vêem cidades norte-americanas devastadas e em chamas, em montagens de qualidade duvidosa. O problema? A Coreia do Norte pode ter o desejo mas não tem a tecnologia para levar a cabo um ataque dessa dimensão. O seu míssil mais potente terá um alcance máximo de 6 mil quilómetros, ou seja, capacidade para chegar, na melhor das hipóteses (do ponto de vista norte-coreano), ao Alasca. Por outro lado, utilizar bombas atómicas contra a vizinha Coreia do Sul seria um “tiro no pé”, uma vez que Pyongyang e Seul estão separadas por menos de 200 quilómetros.
A irracionalidade dos seus líderes:
É generalizada a imagem de um líder louco com o dedo no botão nuclear. Mas as decisões tomadas pelo falecido Kim Jong-il e pelo seu sucessor, o seu filho Kim Jong-un, mostram uma estratégia racional, que lhes tem garantido apoio estrangeiro e uma posição de força na hora de negociar. De realçar também a “arte da tensão”, parafraseando o El Mundo, na península, aumentando-a e abrandando-o consoante os interesses do momento.
O bastião comunista:
O regime norte-coreano mantém uma legião de fãs no Ocidente, convictos de que o país é o último a viver um comunismo “puro”. Mas a verdade é que a Coreia do Norte é controlada por uma elite que vive rodeada dos luxos que proibe aos seus cidadãos. A ideologia marxista torna-se secundária num sistema que combina uma dinastia com ultranacionalismo e tiques fascistas, como os conceitos da alegada pureza e superioridade da raça coreana.
… e verdades
A guerra:
Uma coisa é a ameaça nuclear de dimensões globais, que não passará disso mesmo: uma ameaça. Outra é a capacidade de entrar num conflito de consequências imprevisíveis e isso Pyongyang tem. Os mísseis norte-coreanos podem alcançar Tóquio e Seul numa questão de minutos, o que levaria a uma intervenção dos Estados Unidos. A China, grande aliada da Coreia do Norte, ver-se-ia, nesse caso, obrigada a defender Pyongyang, à semelhança do que aconteceu na Guerra da Coreia (1950-1953).
O país mais hermético:
Apesar das ligeiras alterações dos últimos anos (a tímida abertura ecnomómica, os telemóveis ou a oferta cultural), a Coreia do Norte continua a ser o país mais fechado do mundo. Os seus cidadãos continuam a não poder sair do país livremente e todos os aspetos da sua vida são controlados pelo regime: onde vivem, em que trabalham e até, como foi notícia em fevereiro, que corte de cabelo usam. A mais pequena infração é punida com prisão.
Os ‘gulags’:
Segundo testemunhos de fugitivos, nestes campos de detenção vivem em condições desumanas cerca de 200 mil presos políticos ou condenados por delitos como possuir um rádio sem autorização – e seus familares, uma vez que no país vigora o conceito de “responsabilidade repartida”: prende-se o acusado e seus familiares e amigos.
A fome:
A maioria dos recursos nacionais é desviada pelas forças armadas, ao abrigo da política “o exército primeiro”. Nos anos 90, a fome matou centenas de milhares de pessoas e a crise alimentar mantém-se em algumas zonas do país.