Chamava-se Mitra Mehrad e desapareceu em agosto, depois de embarcar num pequeno bote de migrantes em que seguiam outras 19 pessoas à procura de uma vida melhor do Reino Unido. Segundo conta agora um sobrevivente dessa viagem, a mulher morreu ao tentar salvar os seus companheiros.
“Não fomos tão corajosos, a verdade é essa”, salientou agora Ahmed Nadi, a recordar como a parceira de viagem, de 31 anos, simplesmente se atirou à água para alcançar a corda de resgate de outro barco, quando a embarcação em que seguiam começou a afundar. “Mitra esforçou-se ao máximo para manter a cabeça à tona de água”, acrescentou o homem, antes de rematar: “Mas as ondas eram tão fortes que a corrente acabou por puxá-la para baixo.”
Sabe-se que a iraniana, doutoranda em psicologia, estava desesperada para chegar ao Reino Unido por causa da situação política no Irão, o que demonstra como nem os mais qualificados e instruídos profissionais sentem que podem conhecer outro tipo de destino – e teria chegado à cidade portuária francesa Dunkirk três dias antes de desaparecer. Durante a travessia, Mehrada caiu à água com outras duas pessoas, mas estas foram ambas resgatadas.
“Vimos com os nossos olhos um ser humano a afogar-se e não podíamos fazer nada. Quinze homens seguiam a bordo e não conseguiram fazer nada. Havia pessoas a desmaiar no bote, enquanto Mitra era levada pelas ondas para cada vez mais longe.”
O corpo foi visto pela primeira vez a mais de 40 quilómetros de Ramsgate, uma pequena cidade costeira a sudeste de Londres. Um porta-voz do Ministério do Interior também já comentou o caso: “Foi um trágico incidente que resultou na perda desnecessária de vidas. Atravessar o canal num pequeno barco é – e será sempre – um risco enorme”.
Mas desde o final de 2018 que as tentativas de travessia se multiplicaram, apesar do perigo associado à densidade do tráfego, às fortes correntes e à baixa temperatura da água.