Partilhado na semana passada no Youtube e Twitter, o vídeo com imagens de drone mostra cerca de 600 pessoas com uniformes azuis e amarelos e cabelo rapado, alegadamente uigures e de outras minorias muçulmanas, algemados e com os olhos vendados, perto de uma estação de comboios, em Xinjiang, na China. Com as pessoas que se vêem nas imagens sentadas em filas no chão e a serem levadas pela polícia, o cenário parece ser um momento de transferência de prisioneiros.
À Sky News, uma força de segurança europeia afirmou, na última sexta-feira, que as imagens são genuínas e representam precisamente o drama vivido na região de Xinjiang, tendo sido captadas no início deste ano.
Já Nathan Ruser, investigador do Australian Strategic Policy Institute, utilizou pontos de referência e a posição do sol para verificar a credibilidade do vídeo, e acredita que as filmagens foram feitas numa estação de Korla, a segunda maior cidade de Xinjiang, em agosto do ano passado, assim explica na sua conta de Twitter.
Nessa altura, um painel da Organização das Nações Unidas sobre direitos humanos reunido em Genebra tinha acusado a China de manter cerca de um milhão de uigures num sistema secreto de campos de concentração, em Xinjiang, com o objetivo de lhes dar uma “educação política” adequada.
A Amnistia Internacional, a Human Rights Watch e outros grupos de defesa dos direitos humanos apresentaram relatórios que documentavam alegadas prisões em massa em campos onde as pessoas são forçadas a abdicar das suas tradições culturais e religiosas e a jurar lealdade a Xi Jinping, presidente da China.
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Marise Payne, já se manifestou relativamente ao conteúdo do vídeo, referindo que as imagens são “profundamente perturbadoras”. “Tinha já anteriormente mostrado as preocupações da Austrália devido aos relatos de detenções em massa de uigures e outras comunidades muçulmanas em Xinjiang”, afirmou a ministra ao site news.com.au.
“Estamos constantemente a apelar à China que pare com a detenção arbitrária de uigures e outros grupos muçulmanos e vamos continuar a mostrar essa preocupação em reuniões internacionais relevantes”, referiu Marise Payne.
Em outubro do ano passado, o governador de Xinjiang, Shohrat Zakir, afirmou que os campos não violam de forma alguma os direitos dos muçulmanos e que, pelo contrário, são centros onde os estudantes recebem “educação e formação vocacionais”. O objetivo é, de acordo com o governador,” eliminar o meio social que gera o terrorismo e o extremismo religioso” e, assim, prevenir “as atividades terroristas antes que elas ocorram”.
A China tem levado diplomatas e grupos selecionados de jornalistas a excursões cuidadosamente orquestradas até Xinjiang e continua a defender os seus métodos antiextremismo, descrevendo-os como um modelo que outros países devem seguir.