Segundo o estudo, publicado na revista científica JAMA Internal Medicine, cerca de 7% das mulheres que admitiram ter sido violadas na sua primeira experiência sexual reportaram ter idade igual ou inferior a 10 anos aquando do sucedido. A idade média das mulheres coagidas a ter relações sexuais é de 15 anos e a idade média do atacante é de 27 anos. Em quase metade dos casos, as entrevistadas alegaram ter sido vítimas de algum tipo de restrição física por parte do violador.
O estudo utiliza o termo “iniciação sexual forçada” em vez de “violação”, mas Laura Hawks, a principal autora do estudo, adianta que “qualquer encontro sexual com penetração que aconteça contra a vontade de alguém é violação”, reforçando ainda que “se alguém é verbalmente coagido a ter sexo, trata-se na mesma de uma violação”.
Os investigadores descobriram que as mulheres cuja primeira experiência sexual foi forçada têm uma maior probabilidade de vir a sofrer de problemas no sistema reprodutor, dores pélvicas e irregularidades na menstruação. Para além disso, este grupo de mulheres apresentou uma maior probabilidade de ter gravidezes indesejadas e de abortar.
O estudo baseia-se na análise de respostas dadas por mulheres americanas a questionários de saúde governamentais, entre 2011 e 2017. De acordo com o Centre for Disease Control and Prevention (CDC), uma em cada 5 mulheres americanas foi vítima de violação ou de tentativa de violação, durante a sua vida.
Hannah Bows, do Centre for Research into Violence and Abuse da Universidade de Durham, na Inglaterra, que não esteve envolvida no estudo, comentou: “Esta pesquisa fornece provas adicionais não apenas do espetro da violência sexual, mas também da idade em que muitas mulheres sofrem coerção, assédio e violação”.
“Embora tenha sido prestada uma atenção significativa às experiências precoces de violência e abuso sexual infantil nas últimas duas décadas, as experiências de violência entre os adolescentes, frequentemente denominadas ‘violência no namoro’ ou ‘violência no namoro na adolescência’, receberam muito menos atenção. Da mesma forma, a exploração sexual de meninas por homens mais velhos só recentemente captou a atenção política”, acrescentou.
De acordo com a especialista, o estudo alerta para a necessidade de incluir educação sexual no currículo disciplinar das escolas logo a partir da educação primária, assim como para uma melhoria na prevenção de comportamentos sexuais de risco.
A Amnistia Internacional analisou a legislação de 31 países europeus no que toca a violação e concluiu que apenas 8 possuem legislação baseada no consentimento sexual – Irlanda, Reino Unido, Escócia, Bélgica, Chipre, Alemanha, Islândia, Luxemburgo e Suécia.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mundialmente, cerca de 1 em cada 3 mulheres já experienciou violência física ou sexual pelo menos uma vez na vida. Já em Portugal, de acordo com a Associação Portuguesa do Apoio à Vítima (APAV), os crimes sexuais estão a aumentar progressivamente, tendo sido registados desde 2011 quase 4 mil crimes de natureza sexual, 11% destes violações.