Meteorologistas de toda a Europa estimam que as temperaturas sentidas esta semana em vários países da Europa Central excedam as máximas alguma vez sentidas no mês de junho. Os países mais afetados pela vaga de calor serão a Áustria, Bélgica, Dinamarca, República Checa, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Suíça e França, que se encontram em alerta laranja.
Em França, aliás, espera-se uma máxima de 45º C já para esta sexta-feira, 28, nas cidades de Nimes e Carpentras. “As últimas previsões não deixam espaço para dúvidas: dirigimo-nos para um novo recorde nacional”, comentou Guillaume Woznica, um meteorologista francês, no Twitter, apontando para a previsão da agência Météo-France.
A temperatura mais alta alguma vez registada nesta época do ano em França foi de 41,5º C, em junho de 2003, durante uma outra vaga de calor. Já a temperatura mais alta de sempre no país foi de 44,1º C, em agosto do mesmo ano (quando foi também atingido o recorde português, com a Amareleja a chegar aos 47,3º C). Stefan Rahmstorf, do Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK), refere também no Twitter que a Alemanha “vai a caminho de bater o recorde (de temperatura) de junho passado por 2º C”. Estima-se que as temperaturas aumentem gradualmente ao longo da semana.
As altas temperaturas devem-se a uma massa de ar quente vinda do deserto do Sara que se move para nordeste, aliada a uma depressão que parou por cima do Oceano Atlântico, a noroeste da Península Ibérica. Ao soprar para nordeste, o vento afasta a massa de ar quente do Atlântico, onde esta se poderia finalmente desvanecer, condenando assim a Europa à onda de calor prevista.
Portugal é dos poucos países que não vai ser afetado pela massa de ar, dada a proximidade com a depressão atlântica que contraria o efeito dos ventos quentes. Ao mesmo tempo, o anticiclone dos Açores tem estado a afastar o país do tempo de verão. Só a partir desta quinta-feira, 27, é que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera estima que as temperaturas em Portugal voltem a subir e que a chuva dê finalmente tréguas.
Os cientistas consideram que as ondas de calor podem ser particularmente perigosas quando ocorrem no início do Verão, sem dar oportunidade à população de se habituar gradualmente à subida de temperatura. Em 2003, cerca de 70 mil pessoas morreram prematuramente graças a um fenómeno idêntico. Um relatório de 2015 da Organização Mundial de Saúde concluiu que as ondas de calor do Verão são mais mortais quando ocorrem logo no início do verão, em comparação com as que ocorrem mais tardiamente com temperaturas idênticas ou superiores.
De acordo com Rahmstorf, num comunicado do PIK, esta onda de calor vai ao encontro das alterações climáticas previstas pela ciência. “Os dados sobre o clima mostram que as vagas de calor, assim como outros fenómenos climáticos extremos, estão a aumentar nas recentes décadas. Os verões mais quentes na Europa desde o ano 1500 ocorreram todos desde o virar do último século: 2018, 2010, 2003, 2016 e 2002”, refere.
As autoridades europeias aconselham que os idosos e as crianças se mantenham em zonas abrigadas do calor e que as populações consumam bastante água e se mantenham alerta contra sintomas de desidratação.