A terceira maior democracia do mundo realizou pela primeira vez este ano eleições presidenciais no mesmo dia das eleições parlamentares nacionais e regionais. A ideia era reduzir custos, mas acabou por tornar-se um dos mais complicados processos logísticos de sempre.
O país conta com 192.8 milhões de eleitores, espalhados pelas 17 mil ilhas do arquipélago, resultando num total de 800 mil locais de votos. Estima-se que 80% da população apta para votar se tenha dirigido às urnas durante as oito horas de votação, sendo que cada eleitor teve de preencher cinco boletins de voto diferentes.
Agora, as autoridades revelam que pelo menos 296 trabalhadores morreram e 2.151 ficaram doentes depois de mais de 24 horas a contar votos à mão ou a exercer tarefas de supervisão nos 800 mil colégios eleitorais do país. Os funcionários não resistiram às longas horas de trabalho durante as quais tiveram de contar à mão milhões de votos, fechados em salas com elevadas temperaturas ao longo de toda a noite, e atravessar rios a pé para entregar os boletins de voto depois de contados.
As famílias dos mortos vão receber 36 milhões de rupias (cerca de 2.270 euros), os incapacitados receberão 30 milhões de rupias (1.890 euros) e os doentes ou lesionados terão direito ao equivalente a 1.040 euros para os casos graves e 520 euros para os ligeiros, divulgou a Comissão Eleitoral.
A situação está a criar uma onda de apoio às vítimas e muitas críticas ao sistema eleitoral da Indonésia.
“Heróis das eleições indonésias” ou “mártires da democracia” são algumas das declarações divulgadas por milhares de cidadãos locais nas redes sociais que criticam o trabalho esgotante e as condições de calor extremo dos mais de sete milhões de trabalhadores temporários contratados para a organização das eleições.
“Estavam extenuados porque tiveram de assumir as suas responsabilidades, em alguns casos, durante mais de 24 horas seguidas”, disse o porta-voz da Comissão Eleitoral.
Ishak Sarawiajo liderou o grupo de trabalho numa mesa eleitoral no norte da capital, onde um dos seus companheiros, Hamid Baso, de mais de 50 anos, esteve em coma durante dois dias a seguir às eleições, estando agora a tentar recuperar num hospital do norte da cidade.
Para Sarawiajo, os que morreram merecem ser chamados de “heróis da democracia”, já que estavam no cumprimento do seu dever.
O próprio vice-presidente, Jusuf Kalla, pediu que não se volte a fazer coincidir tantas eleições numa mesma jornada.
Os resultados eleitorais oficiais serão divulgados a 22 de maio, sendo que a provável vitória pertence ao atual Presidente, Joko Widodo, e ao seu partido, de acordo com as contagens não oficiais.