Por enquanto é só um rumor, disse à Lusa a diretora da escola Mateus Sansão Mutemba, Rotafina Fernando Wilson, explicando que para hoje estava prevista uma reunião da Direção Provincial para se decidir sobre a abertura das escolas, pelo menos das que não foram destruídas.
As pessoas que ficaram sem casa e que estão a viver na escola estão assustadas, mas Rotafina sossega-as, diz que se for preciso se montam tendas, porque a escola tem espaço, e que as aulas podem recomeçar, ainda que a escola também tenha sido danificada com o ciclone.
Na escola hoje havia arroz e feijão para o almoço e ainda que se durma no chão, ao lado das secretárias empilhadas, sempre é melhor do que ao relento. Francisca Tomas, quatro filhos na escola, aponta para um canto, quase debaixo de uma mesa. “É aqui que eu durmo”, conta sorrindo, depois de antes se ter queixado de que sem chapas de zinco não pode sair dali. “Casa é teto, a prioridade tem de ser a chapa”.
Segundo Simão Chirova, professor da escola, estão ali acolhidas 293 pessoas, todas da cidade da Beira, dos locais mais devastados pelo ciclone Idai. Num corredor entre pavilhões improvisou-se uma cozinha, fez-se uma fogueira e dois grandes tachos cozem arroz. Rotafina Wilson não quer ninguém a passar fome.
Na escola primária Agostinho Neto o mesmo improviso. No primeiro andar acendem-se fogueiras no átrio, mete-se roupa a secar, há crianças que brincam a empurrar a água para as caleiras. E a sala 3, que era na semana passada uma sala de aulas, está hoje composta por famílias, algumas com esteiras, algumas com utensílios que o Idai não lhes levou.
Adelino Gomes, coordenador do Comité Local de Gestão de Calamidades, disse à Lusa que a escola teve até quinta-feira 830 famílias mas que hoje parte delas foi transferida para outra escola.
E na escola Eduardo Mondlane mais 250 famílias, também hoje donas de casas completamente destruídas pelo ciclone de quinta-feira da semana passada. Maria Madalena, responsável pela gestão, disse à Lusa que só na quinta-feira chegou alimentação. “Mas hoje já não temos nada outra vez para dar de comer a estas pessoas”, lamenta.
E quando começarem as aulas? Maria Madalena encolhe os ombros, olhando o corredor por onde vagueiam pessoas ali refugiadas. “Não sabemos quanto tempo ficam aqui porque não têm para onde ir. Não sabemos o que fazer”.
Não saber o que fazer é de resto o sentimento geral das pessoas que agora perderam todos os bens, quero tenham visto as suas casas destruídas no centro da Beira quer a poucos quilómetros a sul, na vila de Buzi.
“As casas estão todas na água. Lá no Buzi não tenho casa nem nada”, diz João Guluja, 81 anos, ao lado da mulher da mesma idade, sentados no pavilhão desportivo da escola Samora Machel. Chegaram há menos de 24 horas, de barco, depois de quatro dias no telhado de uma pensão e dizem que viram pessoas a morrer afogadas.
E não muito longe, no mesmo pavilhão, Luísa João e Adriano Salimo. Refugiaram-se num sítio alto de Buzi, com água até à cintura, e hoje não têm casa, nem roupa, “nem nada”.
Têm desde quinta-feira um local para dormir. Seco. Por agora.
com Lusa