Um estudo publicado a semana passada na revista científica Journal of Forensic Sciences parece ter deslindado um dos mais apaixonantes mistérios da História: a identidade de Jack, o Estripador. A partir da análise de ADN de um cachecol supostamente encontrado no local de um dos crimes, e dado como pertencente ao assassino, os autores do estudo apontam o dedo a Aaron Kosminsky, um barbeiro nascido na Polónia, com 23 anos na altura dos crimes (1888), e que já constava da lista de suspeitos.
David Miller, da Faculdade de Medicina da Universidade de Leeds, Reino Unido, e Jari Louhelainen, especialista em biologia molecular da Universidade John Moores, em Liverpool, dizem ter encontrado vestígios de sémen num cachecol recolhido na cena do crime da quarta vítima, Catherine Eddowes. “Consegui identificar células consistentes com a presença de fluido seminal no cachecol, o que nos permitiu cruzar o ADN com os descendentes de um dos suspeitos, o imigrante polaco Aaron Kosminski”, explicou David Miller, num press release da universidade. O estudo foi revisto pelos pares (peer reviewed) antes da publicação.
Caso encerrado? Ainda não. Nos últimos dias, outros cientistas têm posto em causa os métodos e os resultados de Miller e Louhelainen. Uma das razões deve-se ao facto de não ter sido publicada toda a informação das análises (circunstância que os autores justificam com as leis de proteção de dados do Reino Unido, que os obrigam a proteger as identidades dos descendentes de Kosminsky e de Catherine Eddowes). Com as informações disponíveis, disse à revista Science Hansi Weissensteiner, um especialista em ADN mitocondrial, aquele método “apenas permitia excluir um suspeito”. Ou seja, aqueles vestígios de sémen podiam pertencer ao barbeiro polaco ou a milhares de outras pessoas.
Por outro lado, não há sequer certezas de que o cachecol fosse mesmo do assassino – e, mesmo que tivesse sido, já estaria demasiado contaminado, por ter sido manuseado sem cuidados por muita gente, ao longo de mais de um século. Reza a lenda (sem que haja provas irrefutáveis de tal coisa) que a peça de roupa foi levada de uma sala da Scotland Yard por um sargento, pouco antes de serem queimadas todas as provas encontradas no local do crime. Depois disso, passou de mão em mão, durante mais de um século (um colecionador diz que teve o cachecol no banco de trás do carro durante anos), até ser comprado em leilão por um fã de um filme sobre Jack, o Estripador, protagonizado por Johnny Depp.
Kosminski terá sido um dos suspeitos quase desde o início das investigações, mas nunca chegou a ser acusado. Em 1891, três anos após os crimes no bairro de Whitechapel, Londres, Kosminski foi encarcerado num manicómio, devido aos seus comportamentos agressivos e alucinações constantes. Aí ficou 28 anos, até morrer.